Editorial
Apesar de ainda nos seus começos, o Euro 2024 já nos deu que pensar. Junto ao televisor ou ecrã do computador, parados fisicamente, o nosso cérebro faz um trabalho extraordinário de composição e recomposição de ideias, certezas, hipóteses, dúvidas, conclusões. Uma distracção de um dos jogadores, do seu treinador, equipa técnica, ou mesmo da arbitragem, pode ser fatal, na luta pelo primeiro lugar. O mesmo acontece na vida de todos os dias, uma distracção pode trazer consequências inimagináveis. Na manutenção da paz, no evitar da guerra, das guerras. Madame de Stael (1766-1817), de temperamento tempestuoso, escrevia: “A conquista é um asar que depende talvez mais das faltas dos vencidos que do génio do vencedor”. Há quem entenda que não há asares, mas tão somente circunstâncias desconhecidas a actuar no momento “x” ou “h”. Mas destacaria o papel desempenhado pelos vigilantes, que esperam a aurora, que perscrutam a “noite”, atentos na defesa de si próprios e dos outros. Alguns ainda, fazem do sucesso das suas vidas uma procura constante no conhecimento dos pontos débeis dos outros. Acordados, não nos é permitido dormir, com a mente mais que alerta, no mundo, na Europa que formamos com tantos milhões. Não seremos heróis, mas tão somente teimamos em vigiar, conhecer o desconhecido, interpretar e conduzir com o bisturi da esperança o nosso mundo com os outros. Não seria descabido e inoportuno criar um dia/noite dos que vigiam com um calendário de eventos apropriados e com destaque para a nossa organização social. Não se trataria de exaltar os vencedores, mas de descobrir as falhas dos vencidos. A nossa terra não estará a precisar também disto?
Rui Marto