Como surgiu a sua vocação?
Quando era pequeno passou-me várias vezes pela cabeça a ideia de ser padre, mas nunca lhe dei muita importância. Tinha outros projectos pessoais. Primeiro queira ser veterinário, depois médico e no secundário engenheiro. Acabei por entrar em Coimbra, fiz o primeiro ano de Engenharia Física e já estava inscrito no segundo ano quando decidi entrar para o seminário.
Como é que tudo aconteceu?
Desde os meus 16 anos que frequentava a Comunidade dos Servos do Imaculado Coração de Maria, que fica ali mesmo ao pé do CEF [Centro de Estudos de Fátima]. Eles organizavam várias actividades para os jovens, como jogos de futebol, e eu costumava participar nessas actividades. No meio daquela alegria toda, havia sempre um momento de oração e, devagarinho, faziam-nos crescer na fé. Entretanto, comecei a fazer este caminho [Universidade] e quando acabei o primeiro ano convidaram-me para participar num campo de férias, em Itália. Aceitei e acabei por descobrir a vocação.
Como é que a família reagiu?
Os meus pais ficaram contentes com decisão, mas tristes devido à distância. No início, a separação custou-lhes, mas já se habituaram e estão muito, muito contentes.
E os amigos?
Para os meus amigos foi um choque. Houve quem me tivesse chamado "maluco", quem pensasse que era uma decisão passageira, porque não coincidia com a vida que eu levava em Coimbra.
Costumava participar na vida académica?
Sim, sim. Tinha o meu grupo de amigos, saia com o pessoal do curso. Aliás, a minha mãe sempre me ajudou a cultivar este amor ao Senhor, a frequentar a missa todos os domingos, a rezar o terço todos os dias. Nesse ano afastei-me um bocadinho do Senhor, e tanto é que no Verão não queria participar nestes campos que me ajudaram a descobrir a vocação. Estava cansado, tinha feito todas aquelas coisas que me davam divertimento, euforia, mas, no fim, só sobrava o vazio, a tristeza, nada daquilo me preenchia. Mas o padre [dos Servos do Imaculado Coração de Jesus], que estava aqui em Fátima e que fez tanto por mim, insistiu comigo e eu lá participei e abriu-se toda esta estrada. Conheci rapazes seminaristas e percebi que não eram extra-terrestres, tinham uma alegria genuína, simples, que eu nunca tinha visto e que contagiava. Então, decidi que queria ver o que era aquilo.
Formou-se cá?
Como descobri a vocação com os Servos do Imaculado Coração de Maria, decidi entrar no seminário deles que é em Roma.
Durante o período de formação teve dúvidas?
Tive momentos em que pensava: será que tenho os talentos necessários para poder viver esta missão? Mas o Senhor foi sempre confirmando.
Fez toda a formação em Itália?
Fiz os dois primeiros anos em Roma, depois estive um ano na Toscana, foi lá que nasceu o nosso fundador e a nossa congregação, e estive cinco em Roma. Os oito anos passaram a voar.
Quis ordenar-se aqui em Fátima?
Nos primeiros anos do seminário sempre tive a ideia de fazer a ordenação aqui em Fátima, mas durante o ano pastoral em que fazemos uma experiência na comunidade estive em várias zonas de Itália a fazer catequese e conheci tanta gente que pensei: Bem, gostaria que esta gente toda estivesse na minha ordenação. Então pensei fazer a minha ordenação em Itália, mas a minha família, os meus amigos, tinham dificuldade em ir a Itália, por isso acabei por me ordenar aqui em Fátima. Veio um grupo de 100 italianos das diferentes zonas onde estive. Não estava à espera que viesse tanta gente.
Escolheu a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima?
Como o nosso carisma está muito ligado às Aparições de Fátima escolhi a Basílica. Também estão lá os pastorinhos, e queria estar deitado ao lado deles.
É devoto dos pastorinhos?
Sim, sim. Ajudaram-me muito no caminho do seminário. Vejo-os como três irmãozinhos que me dão vontade de os seguir. Suscita-me mesmo ternura pensar neles.
Também celebrou a sua primeira missa no Santuário?
Não. Celebrei na igreja da Atouguia, onde fui baptizado.
Correu bem?
Tanto a missa de ordenação como a primeira missa correram bem. Foi uma alegria, mas ao mesmo tempo uma profunda serenidade. Uma alegria de saber aquilo que estava a receber, uma alegria de saber que estava a recebê-lo juntamente com tantas pessoas que me querem bem. E uma serenidade que me permitiu dar o meu sim total.
Vai ficar aqui em Fátima ou volta para Itália?
Vou para Ostuni, Itália, onde já estava a trabalhar antes de ser ordenado.
Um dia gostava de vir para Fátima?
Nós somos missionários. Por regra, mudam-nos de comunidade.
A vossa congregação está presente em muitos países?
Temos 11 comunidades na Itália, uma em Portugal e outra no Brasil. Ao todo, somos 70 padres e 50 irmãs. Aqui em Fátima temos quatro sacerdotes e cinco irmãs.
Fotos do momento da ordenação: Pedro Reis