Notícias de Fátima (NF) - Deixou recentemente a liderança do MOVE, mas prometeu voltar em breve para lutar pela autonomia de Fátima. Acredita que a causa “Fátima a Concelho” não está perdida, foi apenas adiada?
Vítor Frazão (VF) - Na minha opinião, esta causa apenas foi injustamente adiada e nunca será uma causa perdida, assim os fatimenses o queiram. Injustamente porque, em 19 de Novembro 1998, aquando da última “leva” de elevações (caso de Vizela e não só), Fátima subiu à categoria de Concelho, porém, o Presidente da República, ao tempo, vetou esse direito e só o fomos “por um dia”. Sem interesse de liderança, em Janeiro próximo, irei providenciar por uma iniciativa popular, cujo resultado retracte a vontade de se iniciar ou não o processo de “Fátima a Concelho”, já que até 2024 irá decorrer a Regionalização, a nível nacional.
NF - Considera que a criação do concelho de Fátima é uma necessidade?
VF - Sim. Para bem de Fátima e das restantes freguesias do Concelho de Ourém.
NF - Caso a regionalização avance, entende que é o momento certo para avançar com esta aspiração?
VF - Sem dúvida! Eu tudo farei, porque ou é agora ou nunca.
NF -Está disponível para voltar a defender esta causa?
VF - Deixei, recentemente, a minha missão política, mas isso não significa que não me empenhe no que quer que seja e, por isso, estou disponível, “desinteressadamente”, para colaborar.
NF - Já começou a fazer contactos/movimentações nesse sentido? O que está a ser feito?
VF - Neste momento, estou a planificar a iniciativa, para Janeiro!
NF - Acredita que a sua carreira política ainda não está esgotada? Ainda pode dar muito a Fátima em termos políticos?
VF - No sentido estrito da palavra “política”, já dei o meu lugar, mas, socialmente, por minha iniciativa ou a solicitação, vou andar por aí… ainda não morri.
NF - Qual foi a maior vitória que teve na vida política?
VF - Ter servido o povo na Junta de Freguesia de Fátima, na Câmara Municipal de Ourém e, ainda, ter fundado o MOVE-Movimento Independente.
NF - E a maior desilusão?
VF - Os interesses pessoais e dos lobbies instalados nos partidos políticos e a ingratidão de quem vive à custa da ultrapassagem dos valores da ética social.
NF - Sente orgulho no MOVE?
VF - Permitam-me a imodéstia, mas, para mim, o MOVE-Movimento Independente é um “orgulho eterno” e só tenho pena que muitas pessoas não tenham entendido a minha mensagem, em face da descredibilização dos partidos políticos.
NF - Acredita que o MOVE pode fazer a diferença na política do concelho ou foi uma espécie de “vingança” pelo seu partido o ter responsabilizado pela derrota eleitoral em 2009?
VF - Sim, acredito, plenamente, no MOVE e na sua actual direcção. Se, até agora, tem sido a terceira força mais votada nas eleições autárquicas, acima do CDS-PP e da CDU, vaticino que, em 2025, obterá um melhor resultado, em face do óptimo trabalho irá realizar ao longo destes quatro anos. Quem perdeu as eleições, em 2009, foi o PSD, sim, o PSD. Eu não sou um homem de vinganças, sou, isso sim, um homem de acção, um homem de luta. O MOVE-Movimento Independente não tem nada a ver com os resultados eleitorais de 2009! Nasceu em 2013, como alternativa aos partidos políticos e em defesa da liberdade e democracia das populações, tantas vezes suplantadas pela verborreia “dalguns políticos”.
NF - Na altura, custou-lhe perder as eleições para o PS?
VF - Não me custou nada porque sei ganhar e perder e, democraticamente, acatei os resultados.
NF - E custou-lhe deixar o PSD?
VF - Custou, mas já virei a página desse livro onde não constam “certos nomes” (e esses sabem disso). Pelo contrário, nesse livro, - porque sou um homem de “antes quebrar que torcer -, regista-se a minha tenaz capacidade de enfrentar adversidades e adversários.
NF - Sentiu-se injustiçado? Esperava solidariedade dos seus companheiros?
VF - Quem foi solidário comigo, eu bem o sei, tal como, também, sei quem foram os que, “premeditada e cobardemente”, não o foram. Essas pessoas esquecem-se que, na vida, tudo é efémero. Para responder a esta pergunta, chamo à ribalta a tramóia que engendraram contra Rui Rio, mas quis a seriedade das bases do partido que lhe fosse dada, merecidamente, a vitória. “Foram derrotados os que, com interesses umbilicais”, se queriam afiambrar nas listas de deputados. Não pode valer tudo em política.
NF - Guarda alguma mágoa desses tempos ou são águas passadas?
VF - São águas passadas e só esta entrevista, com perguntas tão acutilantes, me fizeram reviver o passado. Essas mágoas não evitaram, nem evitarão, - nunca, jamais -, que siga o meu caminho e seja feliz.
NF - Voltando ao presente, como passa os seus dias?
VF - Sempre me senti um homem realizado e, na actualidade, leio, escrevo, investigo, viajo, dirijo e acompanho a realização das iniciativas empreendedoras da família, participo em debates sobre os acontecimentos locais e internacionais, muitos deles tristes, ditatoriais e incompreensíveis no século XXI.
NF - Já publicou vários livros e promete não ficar por aqui. Alguma vez pensou escrever um livro de memórias?
VF - Sobre as minhas memórias não escreverei porque o meu currículo é a síntese da minha vida, mas, brevemente, publicarei um outro livro.
NF - Quando olha para a terra que o viu nascer e crescer, Fátima, gosta do que vê ou entende que podia estar bem melhor?
VF - Fátima, devido à resiliência dos fatimenses e à repercussão da fenomenologia das Aparições, é merecedora de melhor imagem. Defendo que em Fátima, - mais do que dissertar-se em tertúlias, - deve criar-se “um grupo (apolítico) de reflexão” que fomente o espírito de unidade, que lute pela ascensão de “Fátima a Concelho” e reflicta, essencialmente, no futuro de Fátima. A título de exemplo, onde estão guardados os projectos que reapreciem o fluxo turístico para combater a sazonalidade, que estudem a segurança, que revejam o PDM e reorganizem o território da nossa freguesia? Onde está a reanálise dos parâmetros do IMI de molde a reduzi-lo e a torna-lo mais equilibrado? E as novas vias e acessibilidades, a localização de (verdadeiras) zonas industriais e as futuras áreas de expansão habitacional/populacional? E a salvaguarda do ambiente e património? etc.
NF - É frequente ouvir-se dizer que existe um preconceito em relação a Fátima, sobretudo por parte do Poder Central. Também comunga desta opinião?
VF - Na verdade, Fátima merece mais atenção por parte do Poder Central, pois, devido às Aparições contribui, obviamente, para divulgar Portugal no Mundo, sendo, portanto, imperioso e urgente, apoiar e executar obras públicas de fundo, como: Ligação do IC9 à A1, o quartel dos Bombeiros, acessibilidades estruturantes, reaproveitamento funcional da (existente) estrutura aérea, nomeadamente, para o turismo, para o comércio nacional e internacional, etc.
NF - E no que diz respeito ao concelho, considera que existe uma certa rivalidade entre Fátima e as restantes freguesias do concelho?
VF - Se Fátima vier a alcançar a categoria de Concelho, não tenho dúvidas que tal realidade, seria benéfica para ambas as partes.
NF - O actual executivo tem tratado bem de Fátima ou entente que os projectos estruturantes continuam a ser adiados?
VF - Como atrás disse, Fátima, além do que aqui se tem feito, merece, com carácter de urgência, “obras estruturantes” para um futuro mais próspero, sustentável e mais moderno.
NF - Para finalizar, e como estamos próximos do Natal, se pudesse escolher um presente para Fátima, o que escolheria?
VF - O que mais gostaria de oferecer aos fatimenses, direi a todos os oureenses, era a garantia de que a COVID 19 se tinha sido debelada.