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Questionário de Proust “Fui sempre bastante contestatária”

16-02-2024
As lembranças do 25 de Abril, que assinala este ano o seu 50º aniversário, abriram a conversa com Leonilde Madeira, que nos deu a conhecer um pouco melhor a sua personalidade. Quando se deu a revolução, já era casada e tinha os dois filhos. Guarda boas recordações desse dia, mas refere que foi vivido “à distância”. Nessa altura, dava aulas na Escola Preparatória D. Dinis (antigo Liceu de Leiria, onde também foi aluna) e o dia correu “dentro da normalidade” e só quando chegou a casa é que viu pela televisão “aquele aparato todo, aqueles rostos de alegria, o Salgueiro Maia”, de quem foi colega no Liceu de Leiria e que mais tarde viria a casar com uma amiga sua.

“Foi uma alegria grande, mas sem grande aparato externo”, conta. E acrescenta meio a sério, meio a brincar: “O meu verdadeiro 25 de Abril foi quando o PS ganhou a câmara aqui em Ourém (…) foi um momento de alegria, euforia, vivido sem preocupações, com uma envolvência muito grande (…), porque as pessoas estavam cansadas”. A este respeito, comenta ainda: “Há ciclos de cansaço, as pessoas cansam-se e gostam da mudança e a mudança veio. Da segunda vez que o PS ganhou já foi muito resvés Campo de Ourique, e eu vi que aquilo não ia aguentar perante o tecido sócio- ideológico do concelho. Tive pena, mas não se pode batalhar contra esse tal tecido sócio-ideológico, porque o nosso concelho é assim e como tal não parece que estejam cansados, estão satisfeitos com a situação actual e provavelmente com razão”. Foi “sempre bastante contestatária”. E a este propósito, não resiste a partilhar uma pequena história: “Quando era estudante, ainda na Faculdade de Letras, a minha turma fez uma viagem de estudo a Paris, acompanhada pelo nosso professor de Francês, e eu consegui trazer comigo o Livro Vermelho de Mao Tsé Tung escondido, cheia de medo na fronteira, porque as fronteiras eram muito controladas”. A Guerra Colonial e a música de Zeca Afonso agudizaram ainda mais a sua veia contestatária, que lhe valeu um convite para encabeçar a lista à Assembleia de Freguesia de Fátima pelo PS. E foi assim que começou a sua actividade autárquica, que exerceu durante 12 anos. Além de ter integrado a Assembleia de Freguesia de Fátima, foi membro da Assembleia Municipal de Ourém e vereadora na Câmara Municipal de Ourém. E terminou a sua actividade autárquica com chave de ouro. Foi precisamente no último ano em que exerceu funções que o PS conseguiu conquistar a Câmara. Se calhar, é um “pouco vaidade” da sua parte, mas sente que contribuiu para isso. Na conversa que decorreu na sua casa, rodeada de livros e na companhia dos seus dois gatos, ressaltam ainda a boa disposição e o sentido de humor da nossa entrevistada, que termina a conversa com uma passagem da Bíblia (Eclesiastes 3): “Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu: tempo para nascer e tempo para morrer, tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou, tempo para matar e tempo para curar, tempo para destruir e tempo para edificar, tempo para chorar e tempo para rir, tempo para se lamentar e tempo para dançar, tempo para atirar pedras e tempo para as ajuntar, tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço, tempo para procurar e tempo para perder, tempo para guardar e tempo para atirar fora, tempo para rasgar e tempo para coser, tempo para calar e tempo para falar, tempo para amar e tempo para odiar, tempo para guerra e tempo para paz.”

 

 

Notícias de Fátima (NF) - Qual é a sua ideia de felicidade plena?

Leonilde Madeira (LM) – O conceito de felicidade plena é excessivamente abrangente para se considerar que alguém a tenha atingido na totalidade e durante muito tempo. São momentos fugazes, luminosos, horas, dias, mas a plena felicidade creio que é difícil de atingir. Neste conceito de felicidade, eu até costumo muitas vezes citar uma quadra do António Aleixo: “Felicidade afinal se fossemos todos iguais e livres de todo o mal, não era preciso mais”. Mas não somos todos iguais e não somos livres de todo o mal e como tal a felicidade são os tais momentos. 

 

 

 

Leia a notícia completa na edição impressa do Noticias de Fátima no dia 16 de fevereiro de 2024.

 

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