E agora? O que fazer destes resultados eleitorais?
Continuo a acreditar que o humanismo e o bom senso são a única forma de nos opormos aos fantasmas extremistas do passado, sejam de direita, sejam de esquerda. O historiador Michelet escreveu, num dos seus livros de investigação sobre a Antiguidade Clássica que no circo romano, depois de as feras estarem saciadas, havia o hábito de largar na arena um condenado, com um ovo. Ele tinha que atravessar toda a arena com o ovo na mão e ir depositá-lo num altar. Se conseguisse chegar com o ovo intacto, o homem era libertado. A multidão estava ali na expectativa de ver se o homem se safava, ou se a tensão o fazia quebrar o ovo, ou se alguma das feras lhe dava uma sapatada ou se se atirava a ele.
O futuro (próximo) destas eleições legislativas, fazem-me lembrar um pouco este ovo e quem o transporta, neste caso Luís Montenegro e o seu futuro governo minoritário.
O que é interessante na política portuguesa é que quando o PS perde e depois consegue formar governo, como em 2015, isso é considerado uma vitória. Quando o PSD e o CDS vencem um partido que tinha tido maioria absoluta e, ainda por cima, conseguem formar governo, isso é uma “derrota simbólica” ou uma “vitória amarga”, ou um “desaire”, para usar a linguagem técnica dos comentadores.
Queira-se ou não, Portugal está nos cuidados intensivos. A aposta não é se o governo vai governar bem, mas sim até quando vai governar. À esquerda temos um líder que precisa de se afirmar, pelo que não vai facilitar nada ao seu opositor, nem que isso prejudique o país.
Do outro lado, na extrema direita temos um partido nada confiável, em que é fácil apontar-lhe (coloca-se realmente a jeito) doses assinaláveis de demagogia. Mas que é a terceira força política em Portugal. Que tirou deputados ao PS e PCP.
Que está implantado em todo o país. Que tem a deputada mais jovem desta legislatura. Mas que simultaneamente é um partido frágil, feito à imagem e semelhança de uma única pessoa. E todos nós sabemos o que acontece quando desaparece o líder que se julga eterno. O certo é que não podemos ter ilusões com este partido. Dizia Churchil que só o ingénuo do “conciliador acredita que se continuarmos a atirar bifes ao tigre, o tigre se torna vegetariano.”
Leia a notícia completa na edição impressa do Noticias de Fátima no dia 15 de março de 2024.
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