O sucesso de Bruno Alves resulta de uma conjugação de factores, desde logo o trabalho e a disciplina. Quem o diz é o próprio bailarino, que começou a trabalhar ainda antes de ter terminado o curso. “As oportunidades estão nos olhos de quem as vê. Se uma pessoa quer alguma coisa, tem de ir atrás. Se estão a pensar que vão fazer o curso e depois vão arranjar um empregozinho, boa sorte, não vão chegar a lado nenhum. Poderá haver excepções, mas é difícil”. Segundo o bailarino, “tem de se ter experiência”. Por isso, “quanto mais cedo se começar melhor. Vai-se subindo na carreira, vai-se trabalhando com mais coreógrafos, vai-se ganhando mais qualidade, mais experiência”, refere, exemplificando com o seu próprio caso: “No meu segundo ano, estava a fazer os mínimos na escola, porque o que eu queria era dançar, estava com pressa, era muito disciplinado…”.
Das primeiras experiências, destaca a passagem pela Amalgama - Companhia de Dança, que, nas suas palavras, “faz parte até hoje” da sua formação básica. “Fui trabalhar com eles para substituir um bailarino e aprendi imenso, dancei imenso, fiz imensos espectáculos. Nós é que montávamos os espectáculos, o que também foi muito bom. Tinha muitos bons amigos, era um grupo muito activo, muito dinâmico”. Realça também a passagem pelo TILT, um núcleo coreográfico de Leiria, associado ao Orfeão de Leiria. “Foi muito bom para a minha aprendizagem, trabalhava-se imenso e bem”.
À pressa e ao desejo de dançar e aprender, Bruno acrescenta outros factores que ditaram o seu sucesso: “Também é preciso ter-se muita sorte e ser-se bastante activo”.
Bruno Alves teve sempre o apoio dos pais no que diz respeito às suas escolhas. “Tive o apoio dos meus pais, mas eles não sabiam como é que me podiam ajudar”, recorda. Ainda assim, revela que era frequente ouvir: “Ah, é uma área sem saída. E eu acreditei nisso durante muito tempo. E se acreditas que a coisa não tem saída, desanimas, mas experimenta olhá-la de outra forma. A vida faz-se caminhando. As pessoas têm de deixar de dizer que as artes não dão dinheiro. É mito”.
Por outro lado, lembra que “agora nada tem saída, a precaridade é uma realidade”. Contudo, não nega que houve períodos da sua vida em que passou por “muitas dificuldades financeiras”, mas, olhando para trás, confessa: “Nenhum dinheiro vai pagar aquilo que eu vivi, todos os desalentos, todas as felicidades”. Garante que não se arrepende de ter enveredado por esta área. E confessa que se sente realizado e feliz, mas comenta: “Poderia sentir-me mais realizado, mas a procura da realização é ingrata. Tal como a felicidade. A gente faz uma data de coisas para se sentir realizado e, quando chegas ao destino, já estás a planear outra viagem, por isso vai desfrutando, vai-te conectando com o que te dá prazer, encontra o equilíbrio e segue…”.
Além de ter trabalhado com Olga Roriz, Bruno Alves fez espectáculos com outros criadores e também trabalhou na Alemanha. À pergunta se trabalhar lá fora é a ambição de qualquer bailarino, Bruno Alves reconhece que “é uma bela experiência”, mas assegura que “o que se faz em Portugal é muito bom. Podemos não ter os mesmos apoios, podemos não ter uma tradição tão longa como a Bélgica, a Franca ou a Holanda, mas nós em Portugal, em termos criativos, em termos artísticos, estamos muito, muito, muito bem representados, e cada vez melhor. “Temos muitos bailarinos e coreógrafos que foram para Nova Iorque, Bélgica, chegaram cá com um diamante bruto e fizeram jóias”, afirma.
Actualmente a trabalhar como freelancer, Bruno Alves vai começar em Maio uma peça de teatro com a Companhia do Chapitô. Está também a fazer trabalho de investigação e a compilar tudo o que aprendeu. “Acredito que há muita gente que pode usufruir das coisas que me foram ensinadas”, revela. A este respeito acrescenta: “Uma das coisas que eu quero incutir é que não é preciso destruir o corpo para ser bailarino”. E cita a frase “no pain, no gain [sem dor não há ganho], referindo: “Dá-me pena quem ouve e dá-me raiva quem diz. Pela minha experiência, quanto mais gentil eu for com o meu corpo mais ele me obedece”.
É isso que também procurou transmitir aos seus alunos durante o período em que deu aulas, em Lisboa. Guarda boas recordações dessa experiência. “As pessoas que acabam por ir dar aulas têm o seu lugar no mercado da dança, que é muito importante, que é criar públicos e dar formação. Eu dei aulas porque queria mesmo dar aulas, porque tinha muitas coisas para partilhar”, refere, mas confessa que o que gosta de fazer é dançar. “O que mais adoro é passar o dia a ensaiar, a improvisar, a criar cenas, as tournées, os hotéis, os teatros, os colegas… Acho maravilhoso! É isso que quero fazer e desconfio que vou continuar a fazer”.
Sugestões para quem vai começar
A terminar, pedimos alguns conselhos ao bailarino, dirigidos sobretudo a quem quer fazer carreira nesta área. Diz que não é bom a dar conselhos, mas deixa algumas sugestões: “Dancem muito, dancem tudo, dancem sempre. Vão dançar uma salsa porque sim, vão dançar um forró porque sim, vão dançar um tango porque sim, vão fazer hip hop porque é fixe. Não se importem de serem bons bailarinos de dança moderna ou dança clássica e de serem uns totós absolutos numa aula de hip hop. São expressões diferentes que vão enriquecer o vosso repertório. Vivam a dança todos os dias durante os anos de estudo, seja a ver um filme, seja ver um espectáculo, seja a ler sobre dança, sobre a pintura, sobre a música. Mergulhem completamente na dança. Se não for mesmo isso que querem, vão descobrir muito rapidamente. Aproveitem todas as oportunidades. Não há trabalhos menores. Todos são trabalhos maiores, seja a dançar para um cantor pimba na televisão, seja a fazer um espectáculo no CCB com o mais conceituado coreografo português. Façam o trabalho o melhor possível e cresçam. Não se deixem levar pelo ego artístico, pelas coisas bonitas, espampanantes e glamorosas. Isso só vos vai destruir. Sejam honestos e, principalmente, boas pessoas. Não há bons artistas se não forem boas pessoas. Não se deixem cair na arrogância”.