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Valter Hugo Mãe apresentou “Deus na Escuridão” em Ourém

Lazer - 28 de março, 2024
“Eu devo já avisar que eu estou numa fase esquisita da minha vida. Estou a dizer muitas coisas esquisitas, por isso se vocês acharem que alguma coisa não é normal, o problema é substancialmente vosso, porque eu estou demasiado lúcido para esconder muitas coisas, e normalmente o mundo é mais mascarado e não está preparado para uma pessoa desmascarada como eu”, começou por dizer, meio a sério, meio a brincar, o escritor Valter Hugo Mãe, que veio a Ourém apresentar o seu mais recente livro “Deus na Escuridão”.

“Eu sinto que estou a ficar velho… Eu sempre tive a sensação de que a vida se faz com a espiritualidade, ou seja, há um tempo em que eu não acreditava em transcendência nenhuma, mas ainda assim, para mim, a vida não faria sentido se não fosse espiritual, se não me trouxesse um pressentimento de algo que me ultrapassa por completo, de algo que me supera… Para mim, a vida teve sempre um sentido de auto-superação, de deslumbre… Sempre achei que isto só faz sentido se nós conseguirmos prestar atenção a algum tipo de maravilha, o que significa que, por mais que nos aconteçam coisas horríveis, nós estamos sempre à espera de uma grandeza, de uma revelação, de alguma coisa que nos arrebata…”, referiu.

E sem fugir do assunto, partilhou: “Eu não estava nada à espera que ficar velho pudesse limitar-me de tantas maneiras… Eu sinto-me tão limitado hoje em dia que de repente precipita sobre mim a sensação de estar a ir embora, das coisas estarem a acabar… Depois começam a morrer pessoas, morrem-nos os amigos, morrem-nos os familiares… A questão do fim é cada vez mais concreta, é cada vez mais o retorno do que nós somos… Isto para dizer o quê? Que subitamente eu estou atazanado com a necessidade de perceber para que é que tudo isto foi. Estava na inexistência tão sossegado, veio a existência desassossegar para quê?”.

“Eu ainda não consigo ser religioso assim linearmente, porque eu acho que se Deus existir, eu tenho muita dificuldade em acreditar que Ele seja empresariado, institucionalizado, Deus como marca de uma empresa qualquer, seja ela qual for, e há cada vez mais empresas a tentar capitalizar a matéria prima…”, observou. E acrescentou: “Claro que fui criado catolicamente e tenho tendências católicas, mas o catolicismo quando a gente se aproxima muito é tão específico, tem tantas coisinhas e figurinhas ali metidas dentro. Para mim, bastava-me o presépio, essa redução das coisas ao princípio interessa-me muito, no fundo é a origem”.

 

 

Leia a notícia completa na edição impressa do Noticias de Fátima no dia 28 de março de 2024.

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