Temos que dar os parabéns à cidade. À terra não, que é centenária, milenar, que já por cá existia antes de lendas de princesas e cavaleiros, até mesmo de encontros com o divino. Neste planeta que nos é dado a habitar, o tempo nem sempre tem a mesma medida dos homens.Todos temos vivências pessoais e com isso transportamos a visão sobre muitos assuntos, comigo não é diferente. Aqui nasci e cresci, já daqui saí e já aqui regressei.
Tinha 20 anos quando nasceu a “cidade”. É impossível não apontar desenvolvimento, dinâmica e mudanças. Mas também coisas que não mudam, cristalizadas com o tempo e duras como rochas.
Não havia biblioteca no meu tempo. As deslocações semanais para ter acesso a uma grade variedade de livros, eram feitas a pé, entre a Rua do Rosário quase sem pavimento e o cruzamento do Cinquentenário, onde estacionava uma carrinha da Calouste Gulbenkian que nos mostrou os sonhos no caminho. Devorei livros talvez porque não os havia.
Hoje há livros a mais, acessos instantâneos a toda e qualquer literatura do mundo (nem sei se alguém os lê), também continuamos à espera de uma biblioteca e o pavimento da rua continua mau. Foi-se a carrinha que nos trazia o ritual no tempo certo. Mas nunca estivemos isolados do mundo. O mundo sempre nos visitou.
Nas festas dos santos reunia-se a malta “dos anos”. Os que faziam 20 anos organizavam a festa dos 20, os 30 a sua, 40, 50…e assim continuamos também hoje. A música é qualquer pimba que esteja na berra, e assim ainda hoje festejamos com frango nas festas. Honra seja feita aos que em 1977 nasceram* e se lembraram de começar um Festival da Paz (2017), depois apropriado pela Junta e ganhou a dimensão que conhecemos este ano. É quase um Rock in Fátima yeah! Isto não havia, agora há em bom e que assim continuem!
Há casas abandonadas nestes 25 anos, a par dum mercado imobiliário novo sem oferta, onde o IMI em certas zonas da cidade equipara Lisboa. Ser cidade é ter destas coisas. Nunca irei perceber como é que os R/c dos prédios convivem anos a fio com lojas desocupadas de vidros sujos, mas o preço das rendas é quase proibitivo. É preferível estar vazio?...são as tais dores de crescimento.
É incontornável falar do Santuário. Vive com o tempo, o nosso, o da cidade, haverá de sobreviver a todas as nossas gerações. Cresceu ordenado num tempo sem regras, num tempo de muitos recursos e quase em campo aberto. Além de crescer em idade, cresceu em graça e sabedoria. Resistiu às caricaturas. A história conta com muito mais do que celebrar as aparições nas missas, e esse trabalho consistente foi possível pela mão do Santuário.
O turismo, que por cá conseguimos profissionalizar, tem nele o seu centro nevrálgico e isso também não mudou em 25 anos. É bom ter uma cidade jovem com 25 anos. Tão nova quanto todas as nossas memórias. Este ano o calendário de celebrações é imenso e intenso, digno de 25 primaveras de cidade e palmas sejam também batidas a quem o está a pôr em prática.
Escrevo estas linhas a ouvir a canção de Caetano, “Tempo tempo tempo tempo…ouve bem o que te digo…” e se pudéssemos pedir ao tempo ajuda na luta pela nossa originalidade? Que pedidos fazíamos ao soprar estas velas de aniversário? Sonhemos.
*registo de interesses: sou de 77, mas o trabalho não foi meu.