Por vezes fazem ‑me perguntas sobre a minha visão de futuro nalgumas matérias e, tantas vezes, mostro algum cepticismo. Das últimas vezes já comecei a responder que não era uma questão de pessimismo crítico da minha parte, mas antes, por ser uma optimista bem informada.
Na última semana decorreu o Web Summit em Lisboa, que diz pouco ou nada à generalidade dos portugueses, mas tem impacto na comunidade tecnológica do mundo inteiro. Podemos discordar de muita coisa sobre isso, como por exemplo o montante de subsídios públicos atribuídos para vermos jovens a trabalhar lá como “voluntários” gratuitos, mas não podemos ignorar o que a tecnologia irá mudar no nosso mundo.
E é nesse mesmo mundo que precisamos de perceber o que vai mudar. À margem desse mesmo Web Summit onde gravita a nata mundial de investidores de tudo o que é sofisticado (anda tudo na nuvem claro…), um bebé foi encontrado no lixo por um sem‑abrigo. É neste paradoxo de mundos que vivemos, mas também vislumbro que as diferenças ainda se vão acentuar mais. Sabe Deus a história que ali estará, não nos competirá qualquer julgamento, antes, a compaixão.
Há uns anos num Congresso Mundial de Transportes na Alemanha, uma importante marca de renome mundial dissertava sobre a forma como no futuro iriam ser organizadas as cidades, tudo controlado e conectado, internet em todas as coisas e claro, nos veículos autónomos que nos irão buscar a casa e levar só com um simples clique no botão de uma App e pelo caminho ainda temos tempo de ver um filme e encomendar uma pizza. Infalível. Programado. Vida sem erro.
Eis que na sala alguém pergunta: mas então e se não houver rede? E energia? E se as pessoas não tiverem condições de poder pagar isso? Ou simplesmente, se não quiserem?...a resposta é invariavelmente a mesma: para vivermos todos sobre a mesma “batuta” tecnológica, quase em filme de ficção científica, muita gente será excluída desse mesmo sistema.
Seja porque não o pode pagar, seja porque não o saberá operar, seja porque poucas cidades terão condições de construir alguma coisa semelhante para todos os cidadãos sem custos astronómicos. E num sistema onde muitos pagam para poucos beneficiarem, a justiça social está curta logo à partida. Por isso tenho acompanhado com atenção, tudo aquilo que são mudanças e alterações que a tecnologia nos irá trazer.
Não pensem que não irá acontecer, porque já cá está o caldo onde essas mudanças começaram. Há mais de 100 anos também se dizia o mesmo do cavalo e do carro, que a velocidade do carro seria muito grande e o cavalo servia perfeitamente as necessidades das pessoas.
O que é que aconteceu?...montámos todos em cima dos carros.
Nesse chapéu da evolução natural (?) da vida, temos sempre uma visão do que aprendemos com o passado. De ciclo para ciclo somos diferentes, mas o que fica é o conhecimento que foi transmitido e aprendido. Creio que isto responde sempre a uma parte do sentido da vida, saber de onde viemos, como chegámos até aqui e como é que daqui podemos avançar, ou pelo menos, o que nos é dado a fazer.
Por isso é tão importante estar actualizado nesta Web toda que aí vem, sejam as escolas, as empresas, mas os cidadãos em geral e a forma como todos seremos usuários de tecnologia.
Nem todos seremos programadores e teremos profissões HighTech. Mas vamos levar com eles pela frente na (des)organização da nossa vida, pelo menos da vida como a conhecemos até aqui. Quem nunca se viu refém de um sistema informático cego que teima em não dar resposta ao que precisamos?... Restar‑nos-á melhorar a nossa humanidade. Daquilo que a cada um diz respeito.
Essa é a parte optimista que acalento…