À hora que escrevo este texto, o país começou a “desconfinar”. São verbos novos os que aprendemos a conjugar por estes dias. Estávamos confinados, estávamos On, agora entramos numa espécie de descongelamento da nossa mobilidade.
A Clara Ferreira Alves, no Expresso há duas semanas, escrevia o seguinte: “Ninguém quer gastar a vida online. Sem a liberdade de ir à praia quando e onde se quer, de ir almoçar e jantar fora, de ir tomar um copo, de ir abraçar os parentes e amigos, de ir trabalhar fora de casa, de existir dentro e fora de horas,…[…] o mundo digital é virtual, irreal, seco e sem dimensões”.
E tem razão. Falo com o mesmo sentimento que vejo nas pessoas com quem interajo diariamente: estamos fartos disto, ninguém quer passar a viver online e precisamos de voltar à vida como ela é, mesmo que cheios de cuidados e protecções!
Veja ‑se o caso da nossa cidade, não há hospedes online nos hotéis…podem registar‑se e fazer uma série de operações desmaterializadas e digitais, mas a presença física é o que nos sustenta a procura turística. E nós gostamos de Turismo, está no nosso ADN, na nossa tradição e temos o saber feito de experiências bem‑sucedidas de cuidado e atenção às pessoas que nos visitam. E por isso também voltam ano após ano.
Das imagens da semana alta nas celebrações marianas de 12 e 13 de Maio, corta‑nos o coração ver o Santuário vazio… “vazio mas não deserto”, como bem disse o cardeal António Marto, numa época atípica que eu não gostaria de ver repetida.
O tempo convida à introspecção e a reposicionar valores. A vida humana toma primazia nestas alturas e a lição dada ao país pelo Santuário de Fátima pode deixar‑nos muito orgulhosos. A responsabilidade pelo bem comum está para além de tudo o mais que se possa argumentar. De Gaulle dizia que a solidão é a companheira dos grandes homens, e a imagem do Papa Francisco sozinho na praça em Roma nas celebrações da Páscoa, e de António Marto a presidir às celebrações num Santuário vazio, trazem‑me isso à memória, a grandeza das grandes
consciências do mundo. Precisamos mais que nunca destes exemplos e destas referências. Mesmo que sejam incómodas.
O tempo está para mudanças, em atitudes e comportamentos, tomando como perspectiva o que queremos para o futuro. A ciência procura respostas para a crise sanitária gerada pela pandemia e, enquanto aguardamos novas descobertas, é importante aprender a viver com distâncias, mas com certezas, com dimensão, com noção do real e a existir no tom certo da vida...
Não podia deixar passar nesta crónica dos dias presentes, de falar num tema nada apelativo. Chama‑se saneamento básico e tem estado a ser executado em diversas ruas da cidade e do concelho num investimento de muitos milhões de euros. Como o nome indica, trata‑se de uma condição básica da nossa organização moderna das vilas e cidades, mas só chegados a este Maio de 2020 conseguimos ver esta rede chegar à sede de freguesia... Conversa é levada pelo vento, e nos tempos em que há quem concretize obra, esse mérito tem que ser dado. Por isso, palmas para este executivo municipal, mudar as cidades nem sempre é fácil, compreendido, célere, mas passo a passo é assim que se consegue uma entrada na modernidade. E isso é muita coisa nos dias que correm. Haja mais obras desconfinadas que a população agradece