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Carina João Oliveira

24 de setembro, 2021

Dos dias que correm – Setembro do ano da graça de 2021

À volta dos dias que correm é inevitável olhar as eleições autárquicas. Não tenho dúvidas que são as que atingem maiores níveis de participação democrática (não necessariamente expressa em bons níveis de votação, porque a abstenção é uma chaga). E não necessariamente proporcionais em níveis de qualidade ou preparação. Assisto impávida, mas não serena, aos debates entre candidatos, seja no nosso concelho, mas também aqueles que nos chegam via televisão de norte a sul do país. Percebo que, infelizmente, as redes sociais ocuparam aquilo que seria devido à imprensa local, onde o confronto de ideias (?...) é arrastado na lama de comentários e derivações de opiniões, que em nada dignificam o espectro político. Os cidadãos assistem e não gostam, percebo isso perfeitamente.

 

Nestes meus dias fora desse vazio de humanidade que é o Facebook, procuro a proximidade e a voz própria dos candidatos. Ouvi atentamente o debate promovido pelo Jornal de Leiria.

 

Provavelmente esta crónica só será lida já depois das eleições a 26 (até nisto a imprensa local está fora de tempo…), por isso mesmo não me interessa apontar a mira a A ou B, mas antes, contribuir para argumentar dois temas que me parecem da maior importância para a sociedade, que vi maltratados na campanha local, num exercício de reposicionamento de conceitos.

 

As análises aos números dos últimos censos populacionais mostram que Fátima cresceu 14% na última década e em vez de se escalpelizarem as razões positivas disso, o debate derivou para um absurdo de comentários. 

 

O tema da demografia foi prontamente confundido com o da natalidade, onde nenhuma mulher conseguiu falar de taxas de fertilidade e de enquadrar as questões do papel desta no emprego, na sociedade, nas razões de projecto de vida (ou da falta dele). Antes, ouvi que para aumentar a natalidade era preciso mais acessibilidades e habitação…em África alguém corou de vergonha. Na Europa encontramo-nos numa encruzilhada precisamente entre perda de população, taxas de fertilidade, envelhecimento, imigração. São fenómenos complexos em zonas do globo onde a prosperidade económica tomba com níveis de declínio demográfico, e onde o papel das autarquias oscila entre o zero e o possível. Por cá estamos 1 furo acima disto, basta perceber o trabalho com creches, escolas e apoio às famílias, pese embora a folha de impostos ao estado central ser cega. Ainda assim, o papel da mulher é central para abordar a questão, pelo menos enquanto forem as mulheres a ter filhos, e sobre isso ouvi zero…

Há uns tempos estive em trabalho em África e percebi o que representa a perda de homens jovens na imigração para a Europa. Por cá são precisos, mas a perda de capital humano por lá é enorme, com filhos a crescer sem os pais por exemplo.

 

Isto leva-me a outro tema que foi tratado de forma deselegante. O emprego. Outra questão altamente complexa, mas onde a atracção de emprego é um desígnio para manter os níveis de bem-estar que conhecemos. Mais ou menos “qualificado”, porque não consigo conceber profissões melhores que outras. Aliás, durante a pandemia percebemos muito bem o que podemos considerar essencial, com actividades que nunca pararam nem tiveram o conforto do teletrabalho, como a limpeza de rua, a recolha de lixo, supermercados ou as padarias, só para citar alguns exemplos. Todo o trabalho é digno e desse ponto de vista só posso desejar o regresso ao bom desempenho económico das nossas terras onde as zonas industriais têm um papel a desempenhar no futuro. A sociedade precisa de todos.

 

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