Na primeira parte do nosso artigo abordamos as assimetrias, enquanto desequilíbrio, resultantes da falta de representatividade política (com o afastamento dos cidadãos das eleições), da centralização do Estado (nas áreas metropolitanas de Lisboa – AML- e do Porto -AMP) e da divergência de rendimentos (regional e de género).
Desertificação – O país está concentrado nas AML e AMP, entre estas e no Algarve. A natalidade, mesmo baixa, apresenta os valores mais elevados no Litoral, enquanto a população mais envelhecida se concentra no Interior. A população nacional está distribuída de forma assimétrica no país. Num ciclo vicioso, que se alimenta a si próprio, não são garantidas as condições para as actividades essenciais no Interior (emprego, saúde …), levando à migração para o Litoral e à desertificação do Interior.
Fragmentação social – Com um índice de percepção de corrupção moderado, Portugal ocupa a cauda da União Europeia (EU) relativamente ao índice de justiça social. Esta percepção, real ou não, de (in)justiça social tem sido combustível para o aparecimento do extremismo ideológico. A família está em mutação, com mais de 10% dos lares portugueses monoparentais. Os óbitos por transtornos mentais ou comportamentais mais que duplicou de 2013 para 2018. A percentagem de desempregados com ensino secundário ou superior é elevada, atingindo 40%. A fragmentação social tende a agravar-se face ao sentimento de injustiça, potenciado pelo desemprego, numa sociedade cada vez mais formada, esporeada pelo extremismo.
Cibersegurança – Portugal apresenta uma elevada vulnerabilidade ao cibercrime, o que é sustentado, em parte, pelo Índex de cibersegurança. Portugal apresenta uma elevada falta de resiliência no ciberespaço.
Segurança ambiental – Com uma vulnerabilidade significativa a fenómenos climáticos extremos, elevada a fogos florestais, tendo resultado mais de 100 mortos em 2017, Portugal teve um decréscimo no índice de desempenho das alterações climáticas 2020. Acresce ainda a contestação à exploração do Lítio, com apoio da população e de várias ONG. Portugal tem visto a sua qualidade ambiental a degradar-se, num contexto de maior sensibilidade social ambiental, com propensão a manifestações.
Quando Portugal se prepara para a segunda vaga da COVID-19, a Comissão Europeia1 prevê que a pandemia tenha um impacto negativo generalizado nas assimetrias identificadas. Mas este também é um tempo de oportunidades, como sejam a digitalização e descentralização do acesso, nomeadamente, ao trabalho, ao ensino, à cultura e à saúde.