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Eugénio Lucas

21 de janeiro, 2021

Liderança da União Europeia

Um problema, possivelmente um dos mais relevantes, no funcionamento da União Europeia nos últimos anos é falta de uma liderança que congregue os cidadãos europeus à volta do projecto europeu, que consiga contribuir para o  desenvolvimento global desta comunidade e para demonstrar as vantagens de pertencer à União Europeia.

 

Apesar do contexto de profunda crise sanitária, com todas as consequências sócio‑económicas que lhe são associadas, assistimos, no final do ano de 2020, a sinais de uma liderança efectiva da União Europeia, que se revela, nomeadamente, na aprovação de quatro recentes medidas muito importantes para o nosso futuro:

 

‑ A aquisição de vacinas contra a COVID‑19, por parte da União Europeia, para todos os cidadãos dos seus Estados‑Membros. Percebendo a gravidade da pandemia a União Europeia contribuiu financeiramente para acelerar o desenvolvimento e o fabrico de várias vacinas, assegurando em simultâneo a aquisição de quantidades suficientes para garantir a vacinação dos seus cidadãos. Neste processo a União Europeia actuou como um Estado federal, efectuando a aquisição de vacinas para todos os Estados‑Membros da União e garantindo que a distribuição é feita em função da população de cada Estado‑Membro, de forma a garantir um acesso equitativo.

 

‑ Face à crise mais profunda desde a II Guerra Mundial, resultante da pandemia COVID‑19, a União Europeia aprovou um pacote de recuperação de 1,8 biliões de euros (orçamento plurianual para 2021‑2027 (1,07 biliões de euros) e o Fundo de Recuperação (750 mil milhões de euros), cabendo a Portugal mais de 45 mil milhões de euros (a chamada “bazuca financeira”). De realçar que o Fundo de Recuperação será financiado com dívida comum contraída pela Comissão Europeia nos mercados em nome dos 27 Estados‑Membros e que mais de metade deste Fundo (390 mil milhões) será destinada aos Estados‑Membros a fundo perdido. A aprovação deste Fundo de Recuperação foi um processo muito difícil, com os Estados‑Membros a terem diferentes entendimentos sobre a natureza do Fundo e da participação da União Europeia nesse Fundo.

 

‑ Ao fim de sete anos de negociações foi aprovado um “acordo de princípio” sobre Investimentos entre a União Europeia e China. Face ao contínuo crescimento da economia chinesa e à guerra comercial China‑EUA, este acordo é particularmente importante para a economia da União Europeia. Considerando que a União Europeia tem sido muito mais aberta ao investimento estrangeiro do que a China, este acordo pretende criar um equilíbrio nas relações comerciais entre a União Europeia e a China.

 

‑ No seguimento do processo do Brexit foi assinado, depois de longas e difíceis negociações, o “Acordo sobre a relação futura entre a União Europeia e o Reino Unido”, documento fundamental para assegurar uma saída ordenada do Reino Unido da União Europeia.

 

Nestas quatro medidas, que são quatro casos de sucesso, foi evidente o empenho pessoal de vários líderes europeus dos quais destaco: Ursula von der Leyen e Angela Merkel.

 

A actual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem demonstrado uma grande capacidade de visão e de antecipação, é uma hábil negociadora e tem‑se vindo a revelar como uma consistente líder da União Europeia. 

 

Angela Merkel é a chanceler da Alemanha desde 2005, cargo que irá deixar de exercer em Setembro de 2021, e é considerada por muitos como a líder de facto da União Europeia. Estas quatro medidas, e muitas outras, alcançadas no 2º semestre de 2020, durante a presidência alemã da União Europeia, que tiveram um empenho directo da chanceler Merkel na sua concretização, comprovam o seu europeísmo e a sua capacidade de liderança. Prestes a abandonar as funções governativas na Alemanha, depois de 15 anos de governação, é merecido o seu reconhecimento como um dos mais importantes líderes da União Europeia, que viu sempre mais longe do que só os interesses da Alemanha e que teve a União Europeia sempre presente na sua actuação.

 

Encontramos nas recentes teorias das Relações Internacionais críticas contra o excessivo andro‑centrismo da política internacional, em que os temas relacionados com o poder, segurança, guerra‑paz e soberania do Estado são estruturantes e, em contrapartida, essas novas teorias defendem que a perspectiva do género feminino é diferente, com base num conceito de identidade, diálogo inclusivo e transformação global.

 

O sucesso das lideranças de Ursula von der Leyen e Angela Merkel pode contribuir para dar maior visibilidade a lideranças femininas e desenvolver este diferente tipo de liderança.

 

Ao longo da história da União Europeia os períodos de maior desenvolvimento estão associados a grandes líderes. Desejo que a União Europeia beneficie novamente de uma liderança que entenda as necessidades dos europeus e que esta crise e a sua recuperação não sejam uma oportunidade perdida para a União Europeia.

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