O final de cada ano é o momento de fazer contas! Analisa-se o ano que está a terminar e prepara-se o orçamento para o ano seguinte. Seja no governo da nação, sejam nas autarquias ou nas instituições públicas ou privadas, fazer bem as contas no final de cada ano pode determinar o sucesso ou insucesso do ano seguinte. Porém, 2020 ficará estigmatizado porque um agente minúsculo, invisível e insípido, mas mortal, trocou as voltas à economia. Ficará 2020, o “covideano”! O malfadado vírus contamina pessoas, empresas, instituições e governos com consequências ainda imprevisíveis. Para além das vidas humanas, a preocupação maior relaciona-se com a economia, naturalmente! Mas, apesar do momento crítico e trágico que atravessamos, o minúsculo e traiçoeiro agente pôs a nu várias questões e realidades que esperamos não venham a ser esquecidas no período pós-covideano. Desde logo, a existência de lares ilegais por todo o território nacional e em particular no nosso concelho, onde o número de lares ilegais tem aumentado significativamente. A existência de um lar ilegal tem um único propósito: garantir o máximo lucro aos seus proprietários. Muitos sem condições, os lares ilegais praticam uma actividade que não é fiscalizada pelas entidades competentes, não asseguram a dignidade dos seus clientes e não assumem as suas obrigações e deveres fiscais. É a natureza humana no seu pior porque explora o Outro com o único objectivo de obter um maior ganho económico para si próprio. Nestes momentos, como Maquiavel ou Thomas Hobbes, somos tentados a pensar no Homem com pessimismo, considerando a natureza humana cruel e egoísta, centrada em si própria. Infelizmente, o desenvolvimento tecnológico das sociedades não corrigiu o egocentrismo humano centralizado na riqueza e lucro individuais. Por mais debates e reflexões que se façam, o Homem mantém uma ligação doentia, egocêntrica e esquizofrénica com o dinheiro. Como alguém dizia, o problema não é o dinheiro mas a ganância do Homem. Em 1936, George Orwell recupera o tema da luta contra o poder do dinheiro, no livro O vil metal, mas sucumbido à sua tentação. Esse vil metal que contamina mais que todos os vírus e que se dissemina por todos os quadrantes da sociedade. Será uma inevitabilidade? Considero que não, mas todos somos sensíveis à sedução do vil metal que nos conduz ao choque imoral de querer ganhar muito à custa do Outro. Nem aqueles que apregoam a simplicidade da vida, a união, a fraternidade e a solidariedade estão imunes à vil tentação. De facto, ver cidadãos, entre os quais políticos, seduzidos pelo enriquecimento fácil é mau, mas assistir a responsáveis religiosos sucumbirem à tentação dourada é triste e pode representar o desmoronamento de valores que têm sustentado a defesa de uma sociedade justa e fraterna. O crente de hoje não é o mesmo de há 100 anos. Crente que é crente desfia as contas do seu rosário e pede contas.