A solidão dos mais novos é, muitas vezes a mais submersa, a mais enigmática e a mais confusa. É a mais invisível dentro de uma casa, em que os adultos nem sempre a compreendem.
Provavelmente, só daqui a muitos anos vamos compreender como é que esta geração de crianças e adolescentes viveu esta experiência da pandemia, que medos e incertezas se alojaram neles ou que perguntas sem resposta fizeram. Só mais tarde vamos entender o que para eles representou o fecho abrupto das escolas, a distância dos amigos e o regresso às suas famílias nucleares como antes não haviam tido.
Uma coisa é certa, foram construídas memórias e relações de confiança no seio familiar. Quando virmos jovens “armados” de tecnologia, estirados pela casa, fechados nos seus interesses e que parecem com a cabeça noutro lado a responder com monossílabos, muitas vezes estão a proteger‑se de um mundo que sentem em derrapagem. Aquilo que vimos, como estarem implicativos e agressivos, na verdade estão assustados.
Nós adultos, pela vida e exigência quotidiana, depressa nos esquecemos de como as suas vidas estão fragilmente a ser construídas sobre certezas que têm que ter por base a nossa confiança. Não é fácil para nós, mas ganharíamos se nos dessemos ao trabalho de sintonizar com a solidão dos outros, também para nos reconciliarmos com a nossa. A solidão é das primeiras experiências que o ser humano experiência.
Quem já teve filhos sabe que os bebés querem e sentem necessidade de que falemos ou cantemos para eles mesmo de longe nos nossos afazeres: a solidão dos bebés existe. Quando ouvem a nossa voz deixam de se sentir sozinhos. O ser humano precisa de companhia. O nosso espaço, desde o nascimento, precisa de ser povoado pela presença física de outro ser.