Notícias de Fátima
Sociedade Religião Lazer Educação Desporto Política Opinião Entrevistas Como Colaborar Contactos úteis Agenda Paróquia de Fátima Ofertas de Emprego
PUB

Jorge Perfeito

20 de março, 2020

Olhar de Frente — Ver Diferente

Tinha imposto a mim próprio nunca falar sobre o novo corona vírus, o Covid ‑19, ou quando muito, só abordar o tema depois de passada a crise e os seus efeitos. Mas já não há como não falar dele, afogados numa avalanche de informação lacunosa e divagante, acerca de um assunto do qual pouco ou nada sabemos. Quando é assim, aparecem logo dezenas de teorias da conspiração, e há‑as para todos os gostos. Não sabemos quais as verdadeiras ou falsas, ou se alguma explicação racional poderá resultar da conjugação de todas. Não sou muito dado a este tipo de especulações, mas eu próprio também me vou entretendo a desmontá‑las e a tentar arranjar as explicações que ninguém consegue dar.

Desde as de índole macroeconómica, para justificar uma grave crise recessiva, que já se indiciava e teimavam em ignorar, à profunda alteração de interesses ideológicos, políticos e geoestratégicos, que colocam em causa o nosso modo de vida, o futuro da União Europeia e do mundo, que não sabemos como e se conseguirá resistir, veja‑se agora com a imposição das limitações ao tráfego e à circulação e ao encerramento das fronteiras. E no meio de tudo isto, enormes lacunas de informação, e coisas muito mal explicadas. Um vírus que se propaga de modo exponencial e pode infectar 70 ou 80 por cento da população, eliminando os mais debilitados e os mais velhos. Parece que este vírus desempenha na íntegra uma função de equilíbrio na selecção natural da espécie humana. Não são precisas guerras. Há algo de trágico e darwiniano nisto tudo.

E sem querer colocar em causa elaboradas teorias científicas como o efeito borboleta, ou do princípio da incerteza e das curvas de indeterminabilidade de Heisenberg, um dia alguém nos há‑de explicar, muito bem explicadinho, como é que toda esta confusão começou por causa de na outra banda do mundo um chinês ter comido um morcego cru. Por outro lado, como nem tudo é mau, ao mesmo tempo que nos damos conta destas insuficiências e destas desgraças, em poucos dias logo se verificaram efeitos positivos, ao nível das reduções dos níveis de CO2 e da poluição atmosférica. Só para dar um exemplo.

A verdade é que não estávamos, nem estamos preparados. Há várias dezenas de anos que temos ignorado ostensivamente os sinais e avisos que nos vinham sendo dados. Países, estados, governos, toda a humanidade, não ligaram nada às questões do buraco do ozono, ao efeito de estufa e ao aquecimento global, à poluição dos mares e oceanos, à desflorestação desordenada e devastação da fauna, ao derretimento das calotes polares, aos movimentos migratórios e crise dos refugiados em ambos os continentes. Cenários pós‑apocalípticos que julgávamos do domínio da ficção, ou dos relatos bíblicos de antanho, entraram pelas nossas vidas dentro e condicionaram‑na. Ainda no ano passado, no dia 28 de Julho, o planeta faliu esgotando por completo os seus recursos naturais. Passámos a viver a crédito porque já não conseguimos garantir a sustentabilidade da população mundial. Não ligámos nenhuma e não demos conta do recado. Acabámos a eleger loucos para liderar as grandes nações, a soldo de lobbies e interesses sem escrúpulos, que negam o aquecimento global, não respeitam os protocolos e convenções internacionais ao nível do ambiente, que até rasgaram, etc..

Que queremos agora? Todas as desgraças aconteciam longe das nossas portas e nada nos iria afectar tão cedo. Dizíamos displicentemente, que já não iríamos  ver isso, que já não estaríamos cá, que os vindouros se amanhassem. Pois agora aí temos a confirmação de que afinal as coisas não são como pensávamos. E estamos a senti‑lo na pele.

A vida do planeta e no planeta, está mesmo posta em causa. É tempo de arrepiar caminho, modificar os nossos comportamentos e atitudes, respeitar a humanidade e o planeta, se quisermos ter futuro, porque o futuro está na própria humanidade.

Boa quarentena para todos.


P.S.: Ao concluir esta crónica acompanhámos o debate em que foi decretado o estado de emergência para o país. A suspensão e limitação de alguns direitos fundamentais, não implica o da liberdade de imprensa e de opinião. A nossa democracia e a nossa cultura democrática continuam bem vivas e a funcionar em pleno. Felizmente.

Últimas Opiniões de Jorge Perfeito