O Verão do nosso Desconfinamento
E de repente, quando nos começávamos a habituar ao novo normal de que agora se fala, eis-nos a retroceder e a voltar à nova anormalidade que antecedeu. Nada disto tem jeito. O PM tenta ser engraçado sem graça nenhuma a propósito de vírus e antibióticos, já ninguém entende nada e a mensagem não passa. Então há que voltar às restrições e ao confinamento. Há semanas atrás, andávamos todos assustados, confinados e desconfiados, com receio de sair de casa ou andar na rua. Agora perdemos o medo, interiorizámos que o vírus veio para ficar e fazer parte integrante das nossas vidas e do nosso futuro (para os que ainda têm essa esperança), e achamos normal que assim seja, enquanto aguardamos pela vacina, que nos surge como uma espécie de panaceia para todos os males e que tudo voltará a ser como dantes. Engano dos desenganos.
A (des)informação é má e contraditória. Passámos a duvidar de tudo, a não ligar, a não acreditar. Primeiro o vírus só era letal para os idosos e pessoas que apresentassem quadros clínicos debilitados. Depois já afectava todos por igual, novos e velhos, saudáveis e doentes, sintomáticos e assintomáticos. No início estes não constituíam qualquer perigo, depois passaram a altamente propagadores. Primeiro diziam que o vírus não se dava bem com as temperaturas quentes de Verão, que iria haver uma desaceleração, com condições de poder ser isolado, achatado e erradicado. Agora estamos em pleno Verão e várias freguesias de Lisboa estão em estado de calamidade. Alguém entende alguma coisa disto? As explicações, por sua vez, não convencem e são inconclusivas. Ora porque aumentaram o número de testes e por isso se descobrem mais casos, ora porque fizeram meia-dúzia de festas clandestinas por aí e espalharam o vírus, ora pelo facto desses focos se concentrarem em zonas de extrema pobreza, onde as pessoas vivem sem as mínimas condições de higiene e salubridade, e até de dignidade. Subitamente vieram lembrar-nos que esses problemas existem, como sempre existiram, e que um terceiro mundo faz parte das nossas periferias urbanas. Situações esquecidas que nos deveriam envergonhar e para a qual não tem havido respostas políticas à altura, enquanto há dinheiro para tapar buracos de bancos e alimentar um sistema sórdido e corrupto.
Em termos de crise económica e seu impacto negativo, só de fala do turismo, da TAP e pouco mais. Criou-se a expectativa da época balnear ser salva pelos turistas vindos do Reino Unido, que tanto apreciam o desconfinamento das nossas praias e do nosso sol - Algarve e litoral, para agora dar tudo em águas de bacalhau. E isso era a contar apenas com as praias, porque entre nós - em Fátima, nunca isso se iria notar, uma vez que os súbditos de sua majestade, confinados no seu anglicanismo protestante, não têm especial apetência pelo nosso carismático destino devoto e católico. Dos outros, são poucos a vir e somente de passagem.
É tempo de entender que novos tempos emergiram e que não nos podemos confinar a uma visão limitada, sectorial e redutora em relação a tudo o que se passa, as mais das vezes de forma desordenada e desorganizada. Racismo, xenofobia, descriminação de género, estátuas acima, estátuas abaixo, vandalizadas, reerguidas, repostos ditadores depostos, ressurgimento de ideologias que se julgavam extintas, manifestações e ajuntamentos autorizados, manifestações e ajuntamentos não autorizados, outros ainda sem se saber, para não sermos rotundos, como diz o Jerónimo de Sousa. Que mais, que mais?...
Enfim, se calhar estamos precisados de ir a banhos, de natureza, campo, termas, e outras coisas, já que para os negócios a coisa está muito má. Ao menos temos aí o Verão. Como dizia o poeta, só o Verão é que vale a pena.
Boa quinzena e bom Verão.