Não é necessário ser‑se grande analista político, comentador, líder de opinião, “influencer” (como agora se diz), e ainda menos astrólogo ou adivinho, para vaticinar que o PS de Costa, atravessando uma das piores crises de sempre, não irá ganhar as eleições legislativas daqui a três anos. Não por causa da dita crise, que já se viu será para durar e prolongar‑se por uma boa meia‑dúzia de anos (só para começar a sair dela), mas porque a imagem naturalmente se desgasta e os eleitores cansados tendem sempre a votar na alternativa que na altura houver. Só para variar, para que não sejam sempre os mesmos, mesmo sabendo que depois continua tudo na mesma.
É assim desde sempre. Nunca um líder político aguentou e superou três legislaturas seguidas. No entanto, o facto de Costa conseguir levar duas por diante, em plenas crises, e ainda por cima sem maioria, é obra que fica registada nos anais. Idêntica ilação deve valer para o PSD de Rio, que também não oferece nenhuma garantia de ser, ou vir a ser alternativa credível, e em que a maioria absoluta é igualmente impensável. Veremos que caminho trilhará daqui até às autárquicas, e a partir daí, em função dos resultados que tiver, e de mais uns quantos dislates, tão ao seu, quanto ao nosso gosto. Enquanto isso, o Presidente da República (actual e futuro), vai‑oserenamenteafagando e apoiando, colocando‑lha a mãozinha por baixo, como fazem os adultos aos bebezinhos quando aprendem a andar, para não caírem.
Do CDS nem vale a pena falar, depois de uma convenção onde houve espaço para divisão e dissensos a propósito do apoio à recandidatura de Marcelo. A direita dividida, partida e repartida, ainda por cima dentro de cada partido, é coisa inédita no nosso quotidiano democrático, o que deve ser visto e analisado com prudência e alguma inquietação. A divisão e consequente esvaziamento desse espaço potencia a que seja ocupado pela extrema direita totalitária e retrógrada. E isto, que já está a acontecer, não é nada bom.
O anúncio da recandidatura de Marcelo era tão mais expectável, quanto segura a sua reeleição. Sobre as presidenciais relego o meu comentário para a próxima edição. Mas na senda do que disse a propósito do PSD e de Rio, devo fazer aqui o devido reparo à patacoada de Marcelo na TV, a propósito do acidente de Camarate e do falecimento de Sá Carneiro, quarenta anos depois. Como quem também leu o último volume das memórias de Freitas do Amaral. Misturando as vestes de comentador político e de PR, que ainda é, tal opinião surge desajustada e extemporânea, implicando um claro favorecimento político‑partidário. Perdeu uma excelente oportunidade de ter ficado calado. Como em outras ocasiões, aliás.
Ainda a propósito de eleições e da extrema direita, consta que o Chega! se perfila para as próximas eleições autárquicas no concelho de Ourém. Num concelho já de si tendencialmente conservador, que em tempos idos foi a única autarquia onde o antiquado e extinto PDC (Partido da Democracia Cristã ‑ que era o mais à direita que havia na altura) conseguiu ganhar, sermos agora confrontados com candidatos deste calibre, ainda mais à direita, quase meio século sobre a revolução de Abril de 74, é ainda mais preocupante e um manifesto retrocesso. Num concelho que paralisou e estagnou há muito. Por isso, é importante que continuemos a manifestar a nossa firme intenção em discutir a imperiosa necessidade da criação do concelho de Fátima. Só começando é que se lá chega, e é tempo de o fazermos, porque estas coisas não acontecem de um dia para o outro e levam o seu tempo. Na melhor das hipóteses, Fátima poderá e deverá ser concelho a partir de 2025. É, pois, mais que tempo de começar e avançar.
E com isto aqui me despeço, com excelentes votos de boas festas, Natal e Ano Novo, mais ou menos confinados e com os cuidados que se recomendam.
Até para o ano.