Os portugueses estão de tal modo habituados a crises, que em bom rigor é melhor dizer que nunca saímos delas. Foi sempre a mesma. E por muitos alertas que nos sejam feitos, insistindo que esta é a pior dos últimos cem anos, nem assim nos assustamos ou inquietamos sobremaneira. A única novidade é que esta é a nível mundial e afecta todos os países. Mal se propiciou a primeira oportunidade, com dois feriados seguidos e um fim‑de‑semana, a proporcionarem o gozo de mini‑férias, eis‑nos rumados às praias do Sul, mesmo com tempo fresco e cinzento, para descomprimirmos da ansiedade e gozarmos merecido desconfinamento.
Mas são jovens adultos com menos de 35 anos que iniciam o seu rumo de vida, e os que neste momento entram e saem das universidades, quem enfrentará esta crise nos próximos anos, ou décadas. Há quem fale em uma geração – 25 anos. É uma tremenda injustiça, porque nada fizeram para merecer isto, não são responsáveis por esta herança ou legado, degradado, caótico e pandémico. O mundo que irão reerguer e reconstruir será muito diferente deste. Terá mesmo que o ser, e ainda bem. Para voltar a ser tudo como dantes, então não valeu a pena.
Dizem que vêm aí muitos biliões a fundo perdido. Mas não para já, só para Janeiro. Até lá é preciso elaborar e discutir muita coisa. Como se diz que só haverá vacina a partir de meados do próximo ano. E porquê? Pense o leitor o que quiser, mas como isto anda tudo ligado, nada é alheio ao facto de se realizarem as eleições nos EUA em Novembro, com tomada de posse do novo presidente, precisamente em Janeiro.
É uma condicionante a tomar em linha de conta, tanto mais que já se viu ninguém querer que seja o mesmo. Menos ele, claro. Para os jovens de hoje, o 25 de Abril de 1974 diz‑lhes tanto, como a nós me dizia o 5 de Outubro de 1910, ou o 1.º de Dezembro de 1640. Datas para se gozarem feriados, e apenas isso. As causas ambientais e ecológicas, são as grandes causas mobilizadoras no futuro.
Tudo o até aqui depreciado, considerado lírico e utópico. Há que dar lugar à imaginação e à inovação. Os projectos de fundo a implementar com esta injecção de dinheiros, darão prioridade a estas novas causas e desafios, do ambiente, das energias limpas, a revolução do digital, etc..
A par disso, Costa joga com o baralho todo, incluindo o joker. Baralha, parte, reparte e dá. E faz todas as vazas. Ao vir dizer que apoiava a recandidatura do PR para mais um mandato, antecipou‑se a Rui Rio e ao próprio Marcelo. E desfez de imediato as tradicionais expectativas e tabus, obrigando‑o a assumir.
Manda avançar com a regionalização, entrando de imediato em pré‑campanha eleitoral para as autárquicas, bem sabendo que esses milhões terão que serm convenientemente utilizados em projectos de fundo, com o aumento da despesa pública, para captar novos investimentos, novo tipo de projectos e reformas de fundo, regionais e descentralizados, combater o isolamento do interior, apostando firme na
inovação e descentralização das decisões. Goste‑se ou não do homem, é de se tirar o chapéu. Costa ficará para a história por ter conseguido a proeza inédita de cumprir integralmente duas legislaturas sem nenhuma maioria absoluta. Numa delas, tendo mesmo perdido as eleições. Para quem julgava já ter visto tudo em política, aí têm. A seguir, que venha outro para iniciar novo ciclo neste novo normal, como agora se diz. E Marcelo lá vai dando uns sinaizitos disso, colocando a mãozinha a amparar afectuosamente o líder da oposição, a quem já chama de candidato a futuro primeiro‑ministro.
Mas só daqui a três anos. E também sem maioria absoluta. Há que ter calma, saber esperar e ir aprendendo como se faz.
Pelo nosso concelho e freguesia é que não há meio de aprenderem coisíssima nenhuma.
Volvidos três anos de executivo, por muito que teimem em querer fazer‑nos crer, não realizaram nada que se veja. Tirando actos de mera gestão ordinária e corrente, que qualquer executivo tem obrigação de fazer, a CMO e a Junta de Freguesia, confinadas desde as investiduras, apresentaram apenas uns remendos no alcatrão, espalharam uns metros de tapete, a que pomposamente chamaram de requalificação, e criaram novos toponímicos. Fiquemo‑nos por aqui. É preciso dar uma grande volta a isto.
Boa quinzena.