1. Desta vez Rui Rio aprontou-a bonita. Das duas uma, o homem ou é inimputável e não deve ser responsabilizado pelos actos que pratica, ou está mesmo desesperado. Com uma relação difícil com a comunicação social, não tem dado muito a cara nos últimos dias, à espera que a coisa passe. O homem tem sido uma chacota de si próprio, mas esta acho que ninguém esperava. Nem eu, a léguas desta formação política, apesar de aí ter alguns amigos, que ainda ficaram mais confusos do que eu. O facto é que Rio atravessou mesmo a intransponível linha vermelha, com as mais nefastas consequências, para si, para o partido que supostamente lidera, mas também para o país e para a democracia. Digam o que se disser, arranjem as desculpas que arranjarem, há coisas que não se fazem, por violarem o que comummente se designa como o mínimo ético. Como em tudo na vida, também na política há limites. Ser oposição ao poder, não é querer o poleiro a qualquer custo. Mas Rui Rio não se apercebe disso. Obstinado, teimoso que nem uma mula, como diria o meu avô, encostou o partido ainda mais à direita do que fez Cavaco in illo tempore, para não mais se libertar. Tenho-o dito: o PSD não é um partido social-democrata, e a evidência está à vista. Rio quis arrogar-se de novo disso quando assumiu a liderança, mas os factos e atitudes têm-no desdito. Contestado intramuros e com uma liderança periclitante, não consegue agarrar o seu próprio partido, e vem dizendo pérolas como: “Em Portugal nunca houve ditadura, nem fascismo nenhum!”; “Não há racismo em Portugal, nós não somos um país racista!”; “Não perdi as eleições, e não houve desastre nenhum!” (nisto, o coitado até faz lembrar o Trump!). Talvez por isso, estender a passadeira, dar a mão e abrir a porta à extrema-direita, populista, racista, xenófoba, anti-parlamentar e antidemocrática, lhe deva parecer a coisa mais natural deste mundo. Não pode ser. O que fez foi gravíssimo, e um político assim, não tem vulto, nem idoneidade, e ainda menos carisma, para vir a ser primeiro-ministro do meu país, seja em que circunstância for. É caso para lhe dizer auf wiedersehen. Para ajudar à festa o BE resolve cuspir na sopa, com tiques de irreverência e irresponsabilidades de uma adolescência tardia, em plena crise existencial e pandémica. Finalizo este assunto, obrigando-me a dizer que considero tudo isto muito sinistro, muito grave e muito preocupante para a democracia e para o sistema democrático.
2. Fátima, Ourém, o concelho e demais freguesias, têm sido tradicionalmente conservadores. Justificam-no motivos de índole sociológica, que não cabe discutir aqui. Por isso não espero que a minha opinião seja grandemente entendida por grande parte do circunscrito universo de leitores. Mas ainda pior faria se permanecesse calado e não dissesse mais qualquer coisa a respeito do que falei, mas desta vez circunscrito ao concelho e às autárquicas que já se desenham no horizonte. A propagandística da CMO e do PSD (local e concelhio), está em marcha, com o seu cortejo de sicofantas, à míngua de interesses, prebendas e favores pessoais. Foi isso que se passou com o PDM, com os concursos levados à discussão pública em relação ao aumento da exploração das pedreiras da zona do Casal Farto, com prazos a correr dissimuladamente em plena época de pandemia. É o que se está a desenhar actualmente em relação ao PUF. Mas como ainda estamos em tempo de falarmos disto, aqui fica, por enquanto, o alerta.
Tenha uma boa quinzena, bom confinamento, recolha-se, reflicta e cuide-se.