Um dia destes, as notícias sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que os media denominam “Guerra na Europa”, para causarem alarme e impacto, deixarão de abrir os telejornais e ocupar tanto tempo no espaço noticioso. Como aconteceu com o Covid. Logo tratarão de arranjar outro tema igualmente impactante, mas por enquanto vamos tendo esta, que está para durar e perdurar. Cada dia que passa, é cada vez maior a trapalhada, com (des)informação medíocre e contraditória. A inoperância letárgica em que caíram as instituições internacionais (ONU, UE, NATO, etc.), completamente dependentes dos interesses e ditames dos EUA, é uma evidência. Com os acontecimentos a evoluírem de maneira insana, o conflito prolongar-se-á, pelo menos até às próximas eleições presidenciais em terras do Tio Sam. E já não falta muito. A contagem decrescente começa a partir de Novembro, com dois geriátricos a prepararem-se de novo para a contenda: Biden e Trump. O estado lastimoso e decadente a que chegou o bipartidarismo nos Estados Unidos, que não se consegue renovar, deve servir de base e reflexão para quem defenda este tipo de solução. A nível nacional, veja-se o que acontece no PSD, e o que sucedeu ao CDS, praticamente extinto e sem volta a dar-lhe. Quanto à guerra propriamente dita, se legitimamente condenamos e nos indignamos com a insana doideira e brutalidade do regime de Putin, por outro lado, como não criticar o posicionamento de Zelenski? É que já lá vão mais de dois meses de conflito, e se a memória não me está a falhar, dele ainda não se ouviu um único apelo à paz ou ao diálogo. Pelo contrário, é só “dêem-nos mais armas, mais bombas, mais canhões e blindados, porque estamos a lutar por vocês! Podia estar a suceder convosco!” E pelos vistos, há milhares de milhões de dólares disponíveis para ajudarem na destruição, enquanto para a solidariedade e reconstrução, há apenas tostões demagogicamente dependentes do esmolame dos peditórios, de organizações e associações, humanitárias e outras, autarquias, etc. Desculpem-nos a franqueza, mas para esse peditório já demos. E é com este tipo de discurso que se lhe abrem as portas para falar nos parlamentos, por videoconferência, este novo modismo tecnológico, que a pandemia obrigou a implementar em larga escala em todos os sectores. Da parte da ONU, a passividade é de tal modo, que nos interrogamos acerca da sua viabilidade futura, não lhe vá suceder o mesmo que à antiga Sociedade das Nações. A eternamente adiada reforma da ONU, com o anacronismo desigual do direito de veto de cinco países, dos quais apenas três se conseguem efectivamente impor, é no que dá. Para quem tenha interesse sobre o assunto, recomenda-se a leitura do 3.º volume das memórias de Freitas do Amaral, dos anos enquanto Presidente da Assembleia-Geral, onde ele fala sobre o assunto de modo que toda a gente consegue entender. Em lugar de continuarmos a perder tempo com bizantinices que não levam a lado nenhum, melhor seria que políticos e estadistas se focassem numa estratégia global para resolverem os verdadeiros problemas do mundo e da humanidade: aquecimento global e alterações climáticas; crise energética; sobrepopulação mundial; desequilíbrio demográfico; baixas taxas de natalidade, com aumento exponencial da esperança média de vida nos países ditos desenvolvidos, quase todos no hemisfério norte. Culpa-se o turbo-capitalismo consumista, mas ninguém está disposto a abdicar das suas zonas de conforto. O facto, é que estamos a fazer um mau trabalho. A ciência vai-nos dando avisos, que teimamos em ignorar. O futuro não se afigura nada auspicioso. Falam em mais de cinquenta anos para se conseguir um ponto de equilíbrio. Reduzir o CO2 em 1,5, por exemplo. Duas gerações de vindouros, ainda por nascer, e mesmo assim, se não cometerem os mesmos erros que actualmente cometemos. Para os saudosistas do antigamente, diremos que nem as gerações que nos precederam ficaram isentos de culpas; responsáveis por duas guerras mundiais na primeira metade do século XX, com centenas de milhões de mortos, quando a população mundial era um terço da que é hoje. Não nos venham com histórias, já basta de guerras e de guerrilhas. Tenham uma boa quinzena.