O mínimo que nos ocorre dizer sobre a actual situação, é que os governos parecem todos navegar à vista, a ver o que cada um faz e como faz, quais as orientações e resultados, que erros se vão cometendo e a forma de os evitar. Ainda nos causa perplexidade, como um ser microscópico nos afectou sobremaneira e provocou o caos sanitário, económico e financeiro a nível mundial.
Há para já um dado adquirido. O Covid19 vai fazer parte das nossas vidas durante uns bons tempos, o que vai provocar ainda mais mudanças do que as que temos assistido, sem sabermos quanto tempo isto vai durar e até quando podemos aguentar.
Os milhões que se fala que virão, para novo impulso da economia e estabilização dos mercados, só estará disponível a partir do final do primeiro semestre de 2021. Antes disso há que fazer uma espécie de caderno de encargos, para se saber para onde e como se vai aplicar esse dinheiro, sendo que se fala muito em inovação tecnológica, hidrogénio, redes eléctricas, ferroviárias, digitalização, trabalho e ensino à distância, reformas estruturais, administrativas, etc. Ainda há que discutir e aprovar o orçamento geral do estado para 2021, sem se saber quantos orçamentos rectificativos ou suplementares poderão surgir até lá. Por outro lado, a vacina também é coisa que se diz só estar disponível a partir do final do mesmo primeiro semestre de 2021. Há quem julgue que a dita vai ser uma espécie de panaceia, um remédio para todos os males. Basta sermos inoculados com ela, e como num passe de mágica, afastaremos e livrar-nos-emos de todas as crises e problemas, e voltará tudo a ser como dantes. Regressaremos ao velho normal. Nada de mais fantasioso e errado.
Não por acaso, tudo isto acontece ao mesmo tempo que a pandemia alastra no hemisfério sul. Na Europa receia-se novo surto ou segunda vaga no Outono. A Europa que anda aos trambolhões, adiou actos eleitorais, e depois se esmifrou para alcançar um acordo para se tentar salvar e superar a crise brutal, que ninguém previa e para a qual não estávamos preparados.
A acrescer a isto tudo, há ainda quem fale no adiamento das eleições americanas, em Novembro. Com tomada de posse do novo presidente no início de Janeiro. Perdoem-me qualquer coisinha, mas parece-me haver demasiados acasos e coincidências que neste calendário. Que pensar?
Entre nós, facto inédito e sem precedentes, o maior partido de oposição sugeriu ao primeiro-ministro que se dedicasse mais à governação e não se incomodasse em ir tantas vezes à Assembleia de República. A sugestão foi discutida e aprovada na AR e calhou que nem ginjas ao governo e ao PS, que assim fica sem oposição credível durante uns bons meses. Se acrescentarmos o facto de o Presidente da República não poder demitir nenhum governo nos meses que antecedem as eleições para a presidência, nem nos primeiros meses a seguir, temos que Marcelo se vai passear muito discretamente a partir de Setembro, até para não correr o risco de lhe faltar o pé e meter-se em andanças pré-eleitoralistas. O homem nada bem. Em boa verdade, sabendo-se que ganhará folgadamente as eleições sem esforço de monta, e como não se discutem grandes opções programáticas nem governativas, mais valia que nos poupassem a uma campanha serôdia e desenxabida, sem que os candidatos possam fazer as costumadas arruadas por avenidas, mercados e praças, e mais valia que o actual presidente fosse reconduzido no cargo por simples decreto ou despacho. Claro que há nesta minha opinião uma grande dose de jocosa ironia, mas perante o que vê, é a vontade que dá. A única novidade, e ainda por cima má, é a do partido xenófobo e extremista de direita, que aproveita púlpitos e palanques para medir o pulso à populaça, antecipar futuras campanhas e aumentar a sua base eleitoral. Enquanto isso, todos os outros resolveram encostar-se, tornarem-se basbaques, e ver a banda passar.
Por isso a liberdade e a democracia estão engasgadas, e não há quem lhes extraia o caroço. Com tanto para dizer e mais por fazer, lá vamos andando, como se nada se passasse.
Boas férias, fiquem bem e cuidem-se.