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Jorge Perfeito

4 de fevereiro, 2022

Olhar de Frente - Ver Diferente (Crónica, não muito cor-de-rosa)

A retumbante vitória do PS de Costa teve tanto de inédito, como de insólito. E por isso, não deixou de ser divertido, ver como mais uma vez todas as sondagens se enganaram, a par dos comentadores, opinantes, editorialistas, e demais demiurgos do regime, que tudo fizeram para guindarem o PSD no poder, muito embora agora se esforcem para taparem o sol com a peneira. Se as escolhas fossem feitas com base no rigor das ditas sondagens e análises, então começa a ser mais fácil acertar na chave do euromilhões, do que no resultado das eleições. Com esta vitória do PS, fica posto de lado o mote que referimos na edição passada em relação ao PR, que assim vê o problema resolvido; certamente não da forma como o terá pensado, mas o sufrágio das urnas assim o ditou. Marcelo acabou por comer uma bem fria vichyssoise. A que um dia entornou em cima de alguém, que agora se deverá estar a rir muito com isto. Não sei se se lembram. Eu lembro-me. A maioria absoluta conquistada pelo PS constituiu uma evidente surpresa para todos, até para o próprio António Costa, que ainda não deve ter caído bem em si, e se deve perguntar, como diabo é que isto lhe sucedeu. Mas como já referi anteriormente, o homem parece sabê-la toda, e por antecipação, arriscou na hipótese estratégica de a seu favor pudesse funcionar o mesmo efeito de há uns anos atrás, que levou o PCP de Cunhal a votar em Soares, nem que para isso tivessem de tapar-lhe o retracto. Por querer, ou sem querer, Costa acertou em cheio, chapeau! O PS conseguiu capitalizar o efeito do voto útil à esquerda, em que foram notoriamente penalizados os outros partidos desse espectro, muito por culpa de terem chumbado o orçamento. Tivessem, ao menos, se abstido, para depois abrirem as discussões e negociações na especialidade, e nada disto aconteceria. Perante esta evidência, só se podem queixar deles próprios, nada tendo que culpabilizar os outros. Este resultado do PS de Costa deverá servir também para ultrapassar o estigma do desastre socrático, que o PS nunca deixou de ter dificuldade em gerir e digerir. Contanto, para isso, que desenvolva uma boa governação e sejam levadas a cabo as necessárias reformas, eternamente adiadas e de que o país carece, algumas das quais não podem ser feitas com uma simples maioria absoluta, como é o caso da revisão constitucional. Esperemos que realmente aconteça o prometido diálogo. Quanto ao PSD, era por demais evidente que não reunia as mínimas condições para ganhar o que quer que fosse. Em breves palavras, teve uma campanha desastrosa, em que nem um programa apresentou ao país, nem bom, nem mau, que servisse de bitola e pudesse ser sufragado pelos eleitores. Em resultado disso, viu o seu espaço natural ser disputado e ocupado pelos outros partidos da direita, que subiram, e muito. O IL acabou por suprir o espaço do CDS, que desapareceu, e muito dificilmente voltará ao parlamento. Já o outro partido da extrema direita, se antes repugnava e incomodava, passou a ser muito preocupante. Ainda quanto ao desaparecimento do CDS, o seu declínio tem sido deslizante, vai para mais de duas décadas, quando começou a encostar-se a radicalismos antieuropeístas de direita, em que assistimos ao progressivo afastamento e ruptura dos seus fundadores, como aconteceu com Freitas do Amaral, Lucas Pires, e mesmo Basílio Horta, para nos ficarmos por aqui. A partir daí, o CDS serviu apenas de trampolim de lançamento para que Paulo Portas se evidenciasse, e pouco mais. Também aqui, só se poderão culpar a si próprios.

 

Tenham uma boa quinzena, no país cor-de-rosa, à beira mar plantado.

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