1. Passadas as eleições presidenciais, com resultados sem surpresas de monta, com autárquicas no horizonte, e a crise pandémica de permeio, num ano que se afigura nada auspicioso, arrisco no que gostaria fosse a atitude e conduta do PR neste segundo mandato, a par do que se espera do governo até ao termo da legislatura. Seria desejável que não fosse tão prolífico, nem prolixo, nos comentários a propósito de tudo e de nada. Tarefa difícil, já que o personagem tem alguma dificuldade em se conter nesse domínio. Que se restrinja ao essencial, no âmbito das suas atribuições e competências, tanto institucionais, como constitucionais. Que não perca o pé e não ceda à tentação, mesmo sem querer, de vir a ser demasiado interventivo ao nível político-partidário, atento o próprio espectro de onde provém, a par da crise identitária em que o mesmo se encontra. Por outro lado, não defraudando, ter em atenção e respeitar o círculo alargado que o elegeu. Actualmente, é óbvio estarmos a assistir a uma nítida reconfiguração em todo o espectro político, manifestamente em crise, tanto à direita, como à esquerda, por os partidos estarem desfasados dos seus eleitores, não serem portadores de propostas concretas, nem convincentes, incapazes de responder às questões e anseios de quem vota. É notório e basta repararmos nas elevadas taxas de abstenção.
2. É também desejável não se tornar numa força de bloqueio, especialmente no que tange às reformas a empreender a partir de agora, tão necessárias para atacar e superar a crise, a par do desenvolvimento em todas as frentes e sectores. Nesse sentido, uma revisão constitucional, visando a sua adequação aos novos tempos e a paradigmas emergentes, é tarefa a requerer especial atenção e amplo debate. O mesmo se diga quanto à questão da regionalização, ou descentralização, conforme se queira chamar-lhe. Uma das coisas que a crise pandémica veio expor, pela negativa, revelando lacunas e fragilidades a todos os níveis, é a excessiva centralização relativamente às capacidades decisórias e agilização na sua implementação. Tal só é possível descentralizando e promovendo maiores dinâmicas de proximidade. Aliás, se formos a ver bem, a questão não é de agora. O caso dos incêndios florestais de há dois anos, foi um bom exemplo disso. Neste âmbito, da descentralização, é que cabe a nossa aspiração em sermos concelho. Questão crucial que nos deve mobilizar a todos e que deve ser debatida na futura campanha para as eleições autárquicas. É isso que nos deverá interessar a todos, e nada mais. Porque da criação do concelho de Fátima, muito dependerá o nosso futuro, o desenvolvimento de forma sustentada, e por inerência, o combate na superação das crises em anos que se avizinham. E há muito para fazer nesse sentido.
3. Por último, ainda uma breve consideração relativamente aos resultados eleitorais no concelho e na freguesia, mais uma vez pela negativa. Num universo eleitoral particularmente conservador, como é o nosso, a oposição deslocou-se para a extrema direita, com resultados da ordem dos 15,13% no concelho, e 17,14% na freguesia. A esquerda obteve resultados pouco menos que humilhantes. Sem pretendermos uma extrapolação analógica destes números para as autárquicas de Outubro próximo, é confrangedor a fraca prestação do PS, em termos de oposição. Adivinha-se que irão ter um péssimo resultado, não sendo difícil prognosticar quem será a segunda força. Uma coisa menos má, no entanto, pode resultar em favor das aspirações que falamos, atendendo aos cerca de 51% de taxa de abstenção. É que há espaço para a criação de um movimento independente, e mesmo de uma lista, para disputar a junta de freguesia, sempre com o fito primacial de prometer lutar pela criação do concelho. E com este desiderato finalizo, convidando a reflectirem seriamente sobre isto.
Boa quinzena para todos.