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Jorge Perfeito

21 de janeiro, 2022

Olhar de Frente — Ver Diferente (Dizem que é uma espécie de “marcelingonça”)

Já em plena campanha eleitoral, é impossível não escrever sobre isto na edição que antecede o acto que se avizinha. Partindo do pressuposto, mais que certo, de estar afastado o cenário de uma maioria absoluta, é igualmente verdadeiro, por impossibilidade lógica, que não haverá um grande crescimento percentual dos dois maiores partidos, acompanhando todos os outros, tanto à direita, como à esquerda. Uma solução do tipo “bloco central”, preconizada e desejada por alguns, é igualmente de afastar. Não tem o mínimo cabimento e nenhuma consistência. Já não vivemos tempos desses. Seria um anacronismo incongruente e inconsequente, que iria apenas adiar outra crise, em que, inevitavelmente, um dos partidos não iria ceder à tentação de devorar o outro. Já aconteceu antes e com as consequências que conhecemos.

 

Ao contrário da grande maioria dos comentadores e opinantes, não considero que os debates tenham primado pela qualidade, ou sequer contribuído para o esclarecimento da opinião pública e dos eleitores. No geral, foram uma absoluta mediocridade, num modelo inapropriado, onde os representantes dos partidos dispunham de escassos minutos, nada propícios a grandes explanações e esclarecimentos. Nem sequer o último dos debates, entre os dois maiores, escapou e essa falta de qualidade, no que foi uma tentativa encapotada de manipulação e bipolarização das escolhas dos eleitores, entre apenas esses dois partidos. Que em nada condiz com as mais elementares regras e princípios de uma democracia pluralista, como a igualdade e a equidade.

 

Em vez disso, assistimos a um desfile de bizantinices, sem sumo nem substância, em que nada de novo se ouve. Ressuscitam‑se e recriam‑se, artificialmente, velhas nomenclaturas, que são apenas remendos para velhas roupagens e para velhas ideias. À direita, temos a insipidez dos liberais, que não explicam o que são, nem porque o são; depois temos os conservadores, os centristas e dos do centro (parece que há diferenças, mas não se conseguem descobrir quais); há ainda os ditos sociais democratas, que não o são, simplesmente porque nunca o foram. Venha o mais pintado argumentar e tentar demonstrar o contrário. E existe ainda uma extrema direita, perigosa, onde se acantonaram os protofascistas que durante anos se esconderam nos partidos da direita, agora num denodado esforço para se desmarcarem dos ditos. Só para exemplificar, tal situação é recorrente em Itália, que nunca deixou de ter esse problema, já lá vão cem anos.

 

Se em António Costa é visível o desgaste e o cansaço, em Rui Rio é evidente a impreparação e a imprudência. Ao declarar que viabilizaria um governo do PS por dois anos, assumiu, desde logo, a condição de perdedor. Em desespero de causa, tentou que Costa adoptasse idêntico discurso. Não lhe valeu a pena. Costa parece sabê‑la toda e não caiu no engodo. A Rio restará continuar na oposição, que tem sido pouco menos que desastrada, com tweets e “graçolas” de permeio, que o próprio mal sabe disfarçar. Tudo junto, iremos ter um parlamento que em pouco se diferenciará do que foi dissolvido pelo PR. Com uma maioria de esquerda, ainda que tangencial, tal ónus irá impender sobre Marcelo durante o resto do mandato. Por isso, já há quem chame a isto, uma “marcelingonça”.

 

Está, portanto, encontrado o mote para a partir do próximo dia 30, em que nos perguntaremos: “E agora, Marcelo”? Tenha uma boa quinzena, e não se esqueça de ir votar.

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