1. Mário Soares não acreditava que o seu nome merecesse especial destaque nos anais da História, ou que as gerações vindouras se viessem a lembrar disso. Justificava de forma esclarecida, referindo as grandes figuras da primeira república que se habituara a admirar na juventude, e os grandes estadistas europeus da época, de que já ninguém se lembrava, nem sabiam quem tinham sido.
Vem isto a propósito de os politólogos e comentaristas agora se debruçarem sobre o desaparecimento de certos partidos e do surgimento de outros para ocuparem esses nichos. Nada é perene. E tal qual os homens desaparecem, assim acontecerá, mais tarde ou mais cedo, com os partidos políticos que criaram.
O fraccionamento da direita pôs a nu a doença infantil de que padece e para a qual não consegue encontrar cura. Consumiu-se em guerras e lutas intestinas, olhando para os umbigos e visando apenas o poleiro, sem ligarem aos problemas do país e dos cidadãos. Um antro vazio de ideias, que nem programa tinham. O CDS desapareceu do espectro político, ao qual muito dificilmente deverá regressar. O PSD perdeu mais de um milhão e cem mil votos, de 2011 para 2022.
Perante esta realidade, de modo quase caricatural, assistimos aos partidos à esquerda do PS, preocupados com a hegemonização do centro e a desejarem o fortalecimento da direita moderada, seja o que for que isso signifique. Essa esquerda, dita mais radical, enredada em falsos pretensiosismos intelectuais, elitista e urbana, ficou órfã das causas fracturantes pelas quais, um tanto vaidosamente, gostava de se bater. Deixou-se ultrapassar e não se apercebeu da mudança. De que os problemas, os valores e os desafios futuros, do mundo, da sociedade, e das novas gerações, são completamente diferentes daquilo que obstinadamente defendem. Mais, irresponsáveis ao ponto de agora se terem pronunciado contra a realização de uma revisão constitucional, tão necessária para que se procedam a reformas, desde as leis eleitorais, como agora bem se viu, à questão da regionalização, descentralização, e tudo o mais. A continuarem neste caminho, não tarda nada, irão também desaparecer nas próximas eleições.
2. Os senhores do mundo e donos disto tudo, querem agora impingir-nos mais uma guerra, sem causa, nem pretexto. Mas a pátria do Tio Sam tem a imperiosa necessidade de criar sempre focos de conflito em qualquer parte do mundo, seja qual for a administração ou o presidente eleito. E de nada adiantam as evidências e provas em contrário. Dizem que não acreditam na boa vontade por parte da Rússia, nem na retirada das suas tropas. Que o perigo de invasão continua iminente. Como da outra vez não acreditavam que o Iraque de Sadam Hussein não tinha armas de destruição maciça, com provas da sua existência. Depois, foi o que toda a gente sabe. Mais do que os interesses geoestratégicos, o que está aqui verdadeiramente em causa, são os grandes interesses económicos e financeiros, com o conveniente respaldo dos falcões do Pentágono e dos Chicago boys - nomenclatura ideológica do predatório liberalismo capitalista. Depois, têm o especial cuidado de abandonarem os conflitos, antes de os perderem, deixando atrás de si um imenso rasto de destruição. Depois, desestabilizados que ficam os mercados financeiros, entram de outra maneira com as suas grandes empresas e companhias, no falso esforço filantrópico de reconstrução do que ajudaram a destruir, e assim ganharem os biliões a que se julgam ter direito, tornando esses estados cativos de pagamentos a longuíssimo prazo, sempre debaixo da sua alçada e esfera de influência. No meio disto, há ainda a considerar a duvidosa neutralidade da China, ciosa de fazer negócio e de fornecer os seus meios, produtos e mão de obra, sem descurar os seus específicos interesses geoestratégicos. Apanhando-os ocupados e desprevenidos, não tardarão em proceder à reanexação dos territórios que reclamam desde sempre, como a Formosa / Taywan, e mesmo dos que lhes foram humilhantemente retirados em meados do século XIX, presentemente integrantes da Federação Russa, como é o caso do território da Manchúria. É apenas uma questão de paciência e de tempo. A tal paciência de chinês. Depois veremos se também se irão opor a isso e de que modo.
Tenham uma boa quinzena.