Conforme dissemos, a nova revisão do PUF contempla e favorece mais os interesses privados de alguns, do que a promoção e defesa do interesse público geral. Serve ainda para legalizar uma série de atropelos cometidos ao longo dos anos, por pessoas com responsabilidades ao nível da gestão e administração autárquica. Como, aliás, já anteriormente tinha ocorrido aquando da entrada em vigor do plano primitivo de 2002, já na altura tardio, depois do vergonhoso ensaio que foi todo o aglomerado urbano da zona do mercado, Rua Nossa Senhora das Vitórias e prolongando-se pela Rotunda Sul e Estrada Principal de Fátima, com construções caóticas e assimétricas, de grande densidade, sem saneamento básico e esgotos a correrem para algares. O absoluto alheamento e desprezo pelas questões que deveriam ser prevalecentes e preponderantes, do interesse público, que é de todos nós, é clamorosa. Sobre zonas para a implantação de implantação de serviços, equipamentos públicos e inerente logística, o plano nada refere. Tão pouco relativamente a zonas verdes dentro do perímetro urbano, de que Fátima é absolutamente carenciada.
A trapalhada é de tal modo, que relativamente ao quartel dos bombeiros, por exemplo, não se entende como é que se encaixa em pleno centro de uma zona de expansão urbana, ocupando cerca de 1/3 dessa área, prevendo-se aí, até um heliporto, com todas as condicionantes e afastamentos que a própria logística exige. Como é infelizmente usual um pouco por todo o lado, também aqui é visível a velha metodologia da cunha, favorecimento e tráfico de influências, através do acesso prévio a todo o tipo de informação privilegiada por parte dos ditos particulares.
Concretizando, foi isto que se passou, e se passa, com a suspensão do plano de pormenor da Tapada. E com a revogação do plano de pormenor da Avenida João XXIII, entre outros, conforme já tivemos oportunidade de referir na passada edição deste jornal, e outras edições anteriores. Ora, mediante a suspensão cirúrgica desses planos, com prazos tangenciais para que passassem despercebidos da maior parte da população, permitindo na pendência dessas suspensões, que particulares aí negociassem generosas áreas de terreno, para mais tarde as verem generosamente contempladas e valorizadas, com intuitos meramente especulativos. E mais, tiveram o especial cuidado de sinalizarem e reivindicarem caminhos públicos malcuidados, para depois servirem conformemente a acessibilidade dos seus lotes.
Se juntarmos a isto, que os beneficiários em causa são empresários do sector (actividades imobiliárias e hoteleiras), ocupando lugares de destaque no actual executivo, desde a vice presidência da CMO, à presidência de instituições de cariz social, como é o caso da associação dos bombeiros voluntários, cumulativamente com a presidência de uma organização de teor não governamental (ONG) e lobístico, oferecendo grupos escultóricos para praças e rotundas da cidade, prática que se tornou repetitiva, ou patrocinando toda a sorte de festas e eventos, é mais que evidente o mecanismo das chamadas “portas giratórias” junto dos círculos do poder, por parte dos ditos privilegiados.
Para uma terra que aspira a ser concelho, é de pasmar que tudo isto escape aos movimentos que agora surgem, cheios de boas intenções, das quais se costuma dizer que está o inferno cheio. Os fatimenses estão a ser enganados de modo ignóbil e aviltante, mais do que se possa imaginar. Esperemos que esta temática seja devidamente valorizada e debatida no futuro próximo e não se deixe passar em claro.
Vão pensando na nossa terra e tenham uma boa quinzena.