O Covid‑19, vírus mutante, operou uma verdadeira mutação ao nível da sociedade global. De um momento para o outro, vimos alterado todo o nosso modo de vida. As mutações inscrevem‑se no processo de evolução natural do nosso planeta e da vida nele. Sempre ocorreram, desde a sua origem. Nós próprios, seres humanos, somos resultado de uma mutação que se operou há milhares de anos. Temos um cromossoma a menos que os outros primatas, que deu origem ao homem e à vida inteligente. Estamos, pois, a assistir a uma verdadeira mutação, de um modo radical, depois de ignorados todos os avisos que teimámos em ignorar.
Estamos numa fase de transição e adaptação a uma nova realidade, alargada no espaço e no tempo. Decorrente do confinamento e do distanciamento a que o vírus nos obrigou, foram radicalmente alterados os nossos ritmos, rotinas, convivência social, afectos, relacionamentos familiares entre avós, pais, e filhos, professores e alunos, amigos e colegas de trabalho, relações laborais e modos de produção, hábitos de consumo, indústria, comércio, turismo, até ao culto religioso em grandes concentrações de massa. Uma pandemia que se julgava apenas um surto regional, espalhou‑se fulminantemente ao nível planetário e expôs de imediato as nossas fragilidades, insuficiências e falta de capacidade de resposta ao nível sanitário, em todos os países. Ao nível dos sistemas económicos, transita‑se do capitalismo industrial e financeiro, para a era da digitalização, da robotização, e da inteligência artificial. Outra mutação, também vulnerável a outro tipo de vírus. Será necessário adaptarmo‑nos, adoptando novas atitudes, novos modos de viver e de conviver, de produzir e de consumir, no futuro e por este século adiante.
Não é apenas um problema social e civilizacional, mas planetário, ao qual não estamos a dar a devida atenção. Modificámos momentaneamente os nossos hábitos e atitudes, mas ainda não há sinais da profunda e desejável alteração ao nível da consciência. Apanhados de surpresa, assistimos impotentes às tentativas de explicação, sem que ninguém acerte, nem arrisque prever nada, sem sabermos em quem e no que acreditar. Esta crise está indissociavelmente ligada aos problemas da crise ambiental e ecológica, das alterações climáticas, da busca por novas formas de energia alternativa, da crise da água potável, que tornará mais debilitado o nosso organismo e ameaça reduzir a esperança média de vida no futuro. Tudo isto levará décadas a que se altere e modifique. Quem não entender assim e julgar que se trata de uma fase passageira, apenas mais uma crise económica, um azar que nos aconteceu, e que tudo voltará ao normal, então não faz a mínima ideia do que se está a passar.
Continuação de boa quarentena.