Que a China é a grande potência emergente, e continuará a sê‐lo, não há dúvidas nenhumas. Superavitária em termos financeiros, fruto da globalização e do estatuto de nação mais favorecida, durante décadas, através dos acordos do GATT, e da Organização Mundial do Comércio – OMC, a valerem para todo o tipo de empreendedorismo, trocas comerciais e transacção de capitais, colocaram‐na numa situação privilegiada, enquanto assistíamos ao seu crescimento exponencial até muito recentemente. Como aconteceu um pouco por todo o mundo, Fátima e o concelho de Ourém, não ficaram imunes. Desde o fabrico e venda das estatuárias dos pastorinhos, com os olhos em bico, até à diversificação por investimentos em várias áreas e sectores.
E aqui, relevou a extraordinária sagacidade visionária dos sucessivos executivos da CMO, que aqui encontraram o grande filão que trataram de explorar imediatamente. E de que maneira. A estratégia iniciou‐se com a criação de parcerias público privadas (PPP), visando a concessão de exploração de vários sectores, desde as águas e resíduos às pedreiras, e por aí fora.
O negócio primordial, foi mesmo o das águas, em que, sucessivamente, vimos passarem da CMO ‐ VEOLIA, para a francesa Compagnie Général des Eaux, e posteriormente para chinesa (BEWATER – Beijing Waters). Se ainda não deu conta que está a pagar a água a Pequim, fica a saber para onde está orientado o ramal do dinheiro. Negócio que rondou qualquer coisa como 95 milhões de euros, em 2013, incidindo sobre as Águas de Ourém, de Valongo, Paredes e Mafra (onde chegou a estar sediada a empresa).
Houve câmaras que cuidaram de resgatar essas concessões, como foi o caso de Mafra. A de Paredes, litiga e anda às voltas com a dita empresa pelos tribunais administrativos. Não é o caso de Ourém. Ou seja, corressem as coisas bem ou mal, foi tudo feito para se ganhar muito dinheiro, de preferência a curto prazo. A partir de aqui, todo um processamento muito bem urdido, do género de um cavalo de Tróia, ou trampolim, que se foi estendendo a outros sectores e actividades económicas, desenvolvendo‐se outros negócios, designadamente no respeitante a minas, pedreiras, sectores energéticos, centrais eólicas e fotovoltaicas. Não foi por mero acaso, que na altura, o braço direito do presidente da câmara – Paulo Fonseca, transitou de imediato para essa empresa, após a derrota eleitoral, onde passou a ser uma espécie de “batedor‐tarefeiro”, agilizando todo o tipo de influências e interesses. O mesmo que apresentou duvidosos certificados de habilitações, para poder desempenhar funções junto do executivo camarário, e chegou a ser assessor de si próprio. E que foi presidente da ONG “Rotary”. Da qual, também não por acaso, foram presidentes, sucessivamente, industriais ligados ao sector das pedreiras, da construção civil e do ramo imobiliário.
Não nos venham dizer que tudo isto são acasos e coincidências. A par disso, ainda a curiosa circunstância, de quase instantaneamente, terem surgido e ressurgido, dezenas de empresas, de modo a se poder branquear e fazer circular os milhões provenientes desses negócios, fortunas instantâneas, do pé para a mão, a par da incontornável especulação imobiliária e aquisição de imóveis e móveis de luxo. Tudo muito bem acompanhado e assessorado por figurantes e figurões, dedicados à prática do estelionato, favorecimento, amiguismo e clientelismos cúmplices, um vício endémico, que ficou impregnado naqueles corredores, salas e paredes, para todo o sempre.
Bom Natal, boas festas e bom ano!