Em 25 de Setembro de 1949, o presidente norte‑americano Harry Truman admitia publicamente que a União Soviética também já dispunha da bomba atómica, pelo que a partir daquele momento as duas superpotências entrariam numa nova era de autodestruição mútua.
Praticamente afastada a hipótese de um conflito nuclear, no que respeita ao conflito russo‑ucraniano, o que seria catastrófico para a humanidade e nos dá uma falsa e perigosa sensação de segurança, vamo‑nos a pouco e pouco habituando à ideia de que esta é mais uma guerra regional localizada, como dezenas de outras que ocorrem pelo mundo, a que nos acostumámos e já nem ligamos nenhuma. A única diferença é que esta ocorre em território europeu, que nos faz sentir como se fosse no quintal do vizinho e provoca grande alarido.
Já nos deram a entender que esta guerra está para durar, e temos de interiorizar isso, da mesma forma que interiorizámos que um vírus veio para ficar e temos que conviver com ele. Isso e tudo o mais, com os inerentes reflexos e consequências, que irão afectar o nosso estilo de vida durante os próximos anos e décadas, a todos os níveis, social, económico, ambiental, sanitário, etc... Assim o determinam os senhores da guerra. Este conflito durará, enquanto eles quiserem que dure. E enquanto se destrói um país e se ceifam vidas humanas, políticos e senhores da guerra desdobram‑se em assembleias, reuniões e circunló‑ quios, para aprovarem e discutirem condenações, sanções, retaliações e embargos de duvidosa eficácia. Ao mesmo tempo, vão apoiando um dos lados beligerantes, fornecendo armas e todo o tipo de material bélico.
Vende‑se, negoceia‑se a guerra. Não a paz. De um momento para o outro, os países da UE lembraram‑se que afinal ainda dispunham de muitos milhões para gastarem em armamento. Cerca de 2% do PIB, dizem. Há mais hipocrisia nisto do que em todas as histórias que nos querem impingir. Razão tinha o Saramago, naquele discurso quando recebeu o Nobel, criticando o facto de ser mais fácil ir a Marte do que acabar com a fome no mundo.
A par disto, a fragilidade dos nossos governos e das nossas lideranças, chega a ser confrangedora. Com a crescente escalada das ideologias populistas e de extrema direita, o projecto europeu pode correr sérios riscos de desmembramento, o que, aliás, já começou a suceder. Um futuro nada auspicioso. Esperemos que ainda haja alguma lucidez de raciocínio nas cabeças dos líderes do mundo, para colocarem um travão nisto.
Tenham uma boa Páscoa.