É usual os políticos virem dizer, antes de se retirarem das lides, que não precisam da política para nada, que só lhes trouxe chatices. Ponto é, que, regra geral, só o vêm dizer depois de terem enriquecido com ela, ou à custa dela, de bem se terem enchido e guarnecido, usando e abusando dos cargos e influências em benefício próprio, para alcançarem almejados proveitos.
O concelho de Ourém tem sido pródigo nisso. Todos se aproveitaram, e de que maneira, dos cargos que ocuparam durante anos. Todos sem excepção. E se alguma existe, e nenhuma me ocorre, servirá somente para confirmar a regra, como se costuma dizer.
Para não falarmos do passado muito lá detrás, atentemos só ao que aconteceu neste último mandato, que foi, e é, verdadeiramente escandaloso. Obras de vulto, viste-as. A não ser as mesmas de sempre, para inglês ver (pavimentos e alcatrão) e sempre na mesma altura.
A pretexto do mais que duvidoso interesse público municipal relativamente à questão das concessões de exploração das pedreiras na zona do Casal Farto, a CMO/AMO, praticaram os maiores desvarios, diremos mesmo autênticos crimes, do ponto de vista ambiental, paisagístico, sanitário, e todos os que lhes podem vir a ser agregados em resultado das investigações em curso. O vice-presidente da CMO, empresário hoteleiro, que se deveria ter em conta como um genuíno fatimense, preocupou-se mais em agilizar a aprovação do PDM em benefício dos seus interesses pessoais, como o da legalização dos seus empreendimentos, descurando absolutamente o interesse público, designadamente de Fátima e dos fatimenses, ignorando-os de todo. Ficou a faltar-lhe, ainda, a alteração e aprovação do PUF, para que pudesse desbloquear a situação dos terrenos da SETIMA – SA, em que é accionista maioritário. Mas não houve tempo para tal. E para não darem demasiado nas vistas, favorecendo sempre os mesmos, ou neste caso, apenas um, inventaram um esquema capcioso para destacarem uma área da Tapada, numa zona protegida do PUF em vigor – zona verde, onde durante anos só era permitida a construção para ordens religiosas, favorecendo outro particular com interesses no domínio do imobiliário, no caso vertente, o presidente da associação dos bombeiros voluntários de Fátima. Mais, a CMO teve o especial cuidado, para não dizer descaramento, de publicar o aviso n.º 5333, no Diário da República de 31 de Marco de 2021, prorrogando em 4 meses a elaboração desse plano, mesmo ao jeito de quem lhe fez jeito. A alteração foi posteriormente aprovada por unanimidade, em sessão da AMO de 28 de Junho de 2021* (vide ponto 2:19 da mesma, como já tivemos ocasião de comentar na edição anterior deste jornal). Tudo isto antes da discussão, aprovação e publicação do novo PUF, que era como deveria ter sido. Tudo isto tresanda que farta a favorecimento e amiguismo.
E que foi feito do direito de preferência da CMO na aquisição de imóveis (rústicos e urbanos), tutelado pelo Decreto n.º 17/2003, de 22 de Abril, por um prazo de 10 anos, e porque o deixaram decair? No caso do processo de insolvência e venda do Museu da vida de Cristo, pela exorbitante quantia de 1,1 milhão de euros, teria feito jeito, não? Não estaríamos aqui perante uma oportunidade áurea de se adquirir um património que poderia reverter em benefício da comunidade? A quem aproveitam estes esquemas, afinal? E por quanto mais tempo iremos permitir este estado de coisas, sem nos preocuparmos minimamente em questioná-las perante quem nos deve dar explicações? É tempo de dizermos: Basta!...
Excelente Agosto e boas férias para todos.
*Por lapso na edição impressa foi referido o ano de 2020, quando o correcto é 2021