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Jorge Perfeito

23 de setembro, 2022

OLHAR DE FRENTE – VER DIFERENTE (Renúncias, Deserções e Debandadas)

Menos de um ano depois de ter sido reeleito para um segundo mandato, em que ocupava o segundo lugar na hierarquia da edilidade, Natálio Reis anunciou a renúncia ao cargo de vereador da CMO. Sem grande surpresa, uma vez que essa condição já estava combinada desde o início, como o próprio veio admitir. Nada que não se esperasse, como se vislumbrava desde 2018, início do primeiro mandato em que foi eleito. Menos surpresa, ainda, sabido que alcançou os objectivos pessoais a que se propôs, almejados desde há muito. Começou, aliás, este percurso uns anos antes, enquanto presidente da junta de freguesia, sucedendo-lhe pessoa da sua estrita confiança e facilmente manipulável, como veio a suceder. Vale a pena atentar na forma e estratégia como se desenvolveu esse percurso. Num primeiro momento, surgiu apenas como coordenador do programa, sem, contudo, ter apresentado qualquer programa.

Depois de eleito vereador, assumiu e coordenou, efectivamente e a seu bel prazer, os pelouros que lhe foram atribuídos, de acordo com os seus interesses. Mas não só. A par e muito convenientemente, soube ignorar ou fechar os olhos a uma série de ilegalidades e irregularidades, ao mesmo tempo que tinham lugar uma série de concessões a terceiros, de índole semelhante, nomeadamente ao nível do planeamento e da construção e expansão urbanas. 

Ambiente e engenharia, jardins, recursos naturais, obras particulares, planeamento e reabilitação urbana, turismo e inerentes sectores interdependentes, foram tudo áreas que muito bem soube trabalhar em seu proveito, enquanto outras, muito bem soube ignorar, em prejuízo das populações e da freguesia. Certo, é que a partir daqui, mais fácil se tornou desenvolver e agilizar os procedimentos e diligências, nomeadamente ao nível dos planos (PDM, PUF, Planos de Pormenor), por forma a realizar os tais objectivos pessoais. E disso, não fica nenhuma dúvida. Do outro lado, fica nos a amarga desilusão de verificarmos que no novo PUF, apenas se contemplaram áreas e índices de construção, pura e simplesmente se ignorando tudo o que de mais premente interessa para Fátima, desde creches a parques escolares, zonas verdes, transportes e mobilidade, e tudo o mais que não cabe aqui enumerar. Num dado momento, chegou, inclusivamente, a manifestar-se hostilmente quanto à criação de uma loja do cidadão.

Esta renúncia, foi precedida de uma outra, a da vereadora Carina João, que estrategicamente se soube antecipar ao Natálio Reis. No plano estritamente político, é melhor assim, do que se demitir, ou vir a ser demitido. Porque estas renúncias, cujos reais motivos se desconhecem, soam mais a deserções e a debandadas, do que a outra coisa.

Enquanto vereador do ambiente e dos recursos naturais, foi verdadeiramente sublime a forma como lidou, ou melhor, como não lidou, com a questão das pedreiras e com o favorecimento concedido às empresas que as exploram, no que é já o maior crime ambiental da zona centro.

Este, perpetrado com a anuência e cumplicidade de ambos os partidos (PSD e PS), através dos seus representantes e ex-líderes, pela forma como votaram ou deixaram passar, em assembleia, na câmara e nas juntas. Por isso, há quem esteja a contas com a justiça. Ainda quanto a este assunto, as consequências já estão à vista, com dezenas de despedimentos e rescisões contratuais. Por cá, mas também em outros concelhos e distritos. E há quem diga, que não tardará muito, o buraco financeiro deixado junto de várias instituições, banca, finanças, segurança social, será bem maior que aquele que deixam a céu aberto, na serra completamente esventrada. Porque tanto quanto se sabe, da parte da edilidade nem sequer houve o especial cuidado de se exigir a prestação de garantias bancárias às empresas de extracção e exploração, para depois poderem ser convenientemente accionadas, em caso de abandono, insolvência, etc., como é prática usual fazerem outras câmaras, com situações do mesmo âmbito e de semelhante magnitude. Quando finalmente assistirmos à debandada final, quem é que ficará para tapar o buraco? Será que irão patrocinar mais festivais para angariar os fundos necessários para tal? Ou pagará a nossa gente?

Tenham uma boa quinzena.

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