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Jorge Perfeito

7 de outubro, 2022

OLHAR DE FRENTE – VER DIFERENTE (Uma coisa chamada SETIMA, ou do verdadeiro motivo por detrás da renúncia)

No início dos anos 70 do século passado, um grupo de fatimenses, comerciantes e pequenos empresários, constituíram uma sociedade que visava promover e dinamizar uma série de investimentos para o futuro de Fátima, que se almejava auspicioso. Eramos ainda uma pequena aldeia, e a Cova-da-Iria, o lugar. Essa sociedade tinha um nome – SETIMA (Sociedade de Empreendimentos Turísticos de Fátima - SA). Tinha e ainda tem, porque não se extinguiu, embora praticamente inactiva há muitos anos. A dita tinha uma série de projectos pensados, que iam desde a instalação de uma clínica (que chegou a funcionar no edifício dos padres Marianos); de um museu, que foi o primeiro e ainda hoje existe em Aljustrel (Museu Etnográfico); de um parque de campismo, com piscina, ginásio, circuito de manutenção e um restaurante snack-bar/self service; e também já se falava em aeroporto. Era eu ainda miúdo, mas bem me lembro de por cá andarem os serviços cartográficos e da aeronáutica civil, e terem desenhado umas marcações em círculos na esplanada do santuário, que eram as medições dos ventos e das espirais do ruído. Na altura, os aviões eram ainda a hélice e voavam bastante mais baixo.

 

Entretanto na sequência de acontecimentos da revolução de Abril de 1974, operou-se a nacionalização da banca e de alguns sectores produtivos. Por essa altura, a SETIMA tinha cerca de 500 contos numa conta bancária (cerca de 2500 euros, hoje.), que o senhor Albino Frazão zelava com especial cuidado, já que era, ao mesmo tempo, funcionário do único banco que cá havia (Pinto de Magalhães), estava nos primórdios da sua actividade de operador turístico (agente de viagens); e foi um dos primeiros accionistas fundadores e impulsionadores da dita SETIMA. Com receio que o dinheiro pudesse vir a ser confiscado, por pertencer a uma sociedade anónima (na altura haviam as SARL, de responsabilidade limitada), os accionistas reuniram em assembleia-geral e decidiram investi-lo na aquisição de um terreno para os ditos fins, que está sito na parte sul de Fátima, entre as duas avenidas, em frente à rotunda do Santo António. Na altura não havia planos, nem em Fátima, nem no concelho. Mas não era recomendável que se construísse nessa zona, sem a anuência do santuário, que a considerava dentro do seu perímetro de protecção. Com o passar dos anos, que depressa se volveram em décadas, as acções dispersas, dispersaram-se ainda mais, por força de processos de óbito e partilhas, que chegaram a filhos e a netos. Ora, ao longo desses anos, essas acções foram paulatinamente sendo adquiridas pelo senhor ex-vereador, que presentemente detém mais de 80% do capital social da dita sociedade, proprietária desse terreno. Sendo, portanto, largamente maioritário. E onde antigamente era vedada a construção, passará a permitir-se, ao abrigo do que será o novo PUF.

 

Foi por isso, e só por isso, que o senhor ex vereador se iniciou nos périplos da política, desde há uns anos para cá, tendo começado pela junta de freguesia, até se guindar na CMO, para promover os seus interesses empresariais, que obviamente já em nada se compaginam com o objecto original da sociedade. Atingidos os objectivos a que se propôs, “ala que se faz tarde, que já cá tenho o que quero”. Portanto, deixemo-nos de histórias da carochinha e seja conhecida a verdade de uma vez por todas. Os fatimenses têm o direito de saber. Mas é claro que nestas coisas, não se podem favorecer apenas os interesses de um. Daí que, ao mesmo tempo, se aproveitou para virem a reboque os de outros, nomeadamente proprietários na área, até confinantes, como é o caso do senhor presidente da associação dos bombeiros. Que, aliás, muito oportunamente acabou de concluir o mandato de presidente da ONG lobista (Rotary), por onde passa e perpassa todo este tipo de informação privilegiada. Porque não há almoços grátis, e muito menos rotundas. E já agora, vindo a talhe de foice, aproveitaram para, na mesma zona, legalizarem (eles falam em “colmatar”) uma série de edifícios e construções clandestinas, ao abrigo dos artigos 24.º, 25.º e 28.º do Regulamento do futuro PUF. Em alguns desses edifícios, funcionam inclusivamente de modo igualmente clandestino, indústrias e comércio. Tudo isto levado a cabo nos tempos em que o PSD mandava e desmandava da CMO. Pelos vistos continuam na mesma senda. A revisão do PUF foi, pois, feita com conta, peso e medida, para favorecer específicos interesses de particulares, e descurou por completo toda a restante realidade e carências de Fátima.

 

Se houvesse o mínimo de vergonha, que já se viu que não têm, o PUF deveria ser prontamente suspenso e submetido de novo a discussão pública, com a devida transparência, que não houve.

Boa quinzena para todos

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