1.Saúde e economia: De todas as crises que atravessámos e tivemos oportunidade de vivenciar, e das que ocorreram antes na história, não houve nenhuma mais bizarra do que esta. Desde logo atente-se no seguinte: desde o primeiro momento, desde o primeiro dia, que se sucederam uma série de informações erróneas e contraditórios, de ditos e desditos, que só serviram para lançar a confusão e suscitarem todo o tipo de dúvidas. Depois começou logo a advertir-se para o facto das consequências se poderem reflectir a médio e longo prazo, tanto a nível sanitário, como económico e financeiro. Ao mesmo tempo sossegavam-se as pessoas ao afirmarem de modo quase peremptório que nada haveria a temer, porque a taxa de recuperação era alta, porque estávamos preparados e porque iria haver uma vacina, e também muito dinheiro para ajudar a superar a crise económica (bazucas, obuses, e sei lá que mais!). Tudo isto evoluiu e involuiu a par e passo, com avanços e recuos que ninguém entendeu, nem ninguém conseguiu explicar. Apenas que, tanto a vacina sanitária, como os dinheiros e fundos (vacina financeira), só estarão disponíveis a partir de meados do ano que vem. As negociações entre os parceiros europeus sofrem todo o tipo de atrasos e contratempos, e a par disso, os laboratórios científicos avançam e recuam concertadamente. Agora, a taxa de mortalidade e de infectados mais que duplicou em relação ao tal pico de que se falou no início da pandemia. Parece que há um algoritmo que calcula e prognostica que a taxa pode atingir até 4 mil casos de infecção diária. E é assim em todos os países da Europa e do mundo, tudo ao mesmo tempo. Bizarro.
2.A Encíclica Papal, a União Europeia e o Mundo: Para quem ainda não leu, recomendo vivamente a leitura na íntegra da encíclica “Fratelli Tutti”, do Papa Francisco. Está lá tudo. Transtorna-me imenso dizê-lo, mas a Europa de Robert Schuman já não existe. Foi pena, mas não soubemos aproveitar. Desde aquele longínquo dia de 9 de Maio de 1950, que poderíamos e deveríamos ter evoluído para melhor. A economia e a cupidez pelo capital sobrepuseram-se, e de que maneira, sobre o político. Desapareceram os grandes estadistas, e paradoxalmente, a ocidente parece que só resta mesmo o Papa, que com desassombro e imensa lucidez, diagnostica as enfermidades políticas e sociais, propugna soluções, alerta para os falsos populismos, radicalismos e fundamentalismos de todo o tipo, e insiste no apelo à solidariedade, e ao interesse e participação política de todos os cidadãos. Sublime.
3.Confinamentos: Penso que ninguém, nem eu, nem nenhum dos leitores anda satisfeito com o que se está a passar. Com isto de andarmos a ser controlados, com a proibição de eventos, de festas, ajuntamentos, de todo o tipo de medidas restritivas, recolhimento obrigatório, horários limitados, até aquela sugestão que quererem obrigar a descarregarmos determinada aplicação no telemóvel. Uma espécie de Big Brother da era digital. O Leviatã, de Thomas Hobbes. Ideias muito perigosas. Será que gostaríamos de ter governos extremistas e populistas a imporem-nos tudo isto em permanência? Pensemos bem nisto.
Tenha uma boa quinzena e não se esqueça, proteja-se.