1 . Se dúvidas houvessem acerca da política de favorecimento e compadrio dentro da CMO, foram completamente dissipadas na última AMO, atentas as declarações dos excelentíssimos autarcas.
Pronunciando‐se com inefável desvelo acerca de assuntos tão polémicos como o das pedreiras ou o da renúncia a mandatos, vieram dizer em relação ao primeiro, que primeiro se verá o que vai acontecer, para depois procederem em conformidade.
Sendo certo que, já se viu, não estão minimamente preparados,nem esclarecem se, como e quem, assumirá os respectivos ónus e encargos pelo imenso buraco deixado. Ao que se sabe, o montante da garantia é exíguo e mal dá para a cova de um dente, quanto mais para o que lá está. A seguir assistimos ao triste espectáculo das habituais cuspidelas políticas, entre os dois maiores partidos (PSD e PS), sobre a atribuição das responsabilidades. Quando, desde o início, se tratou de uma parceria muito bem urdida entre os dois partidos, através dos contactos privilegiados dos seus destacados líderes, deputados à altura. E bem assim, toda a constelação de interesses e negociatas de vária índole, que gravitam em volta do nebuloso assunto. É manifesta, aliás, a dificuldade do PS em lidar com este assunto, não se conseguindo assumir. Basta ver as declarações dos seus representantes. Foi assim, sabemos agora, que tramaram o Paulo Fonseca.
Em que até um presidente de junta (socialista), se passou para o PSD, onde agora ocupa lugar de relevo. Diz o velho ditado, que o rei é sempre atraiçoado pelos seus cortesãos. Eis o exemplo. Relativamente à questão da renúncia ao mandato por parte do senhor vereador Natálio Reis, a justificativa raiou os limites do descaramento, já que, segundo declarou o senhor presidente da câmara aos jornalistas, a saída do seu número dois estava prevista desde o início do actual mandato. Não podia ter sido mais infeliz na declaração.
Mas então, isto já estava tudo previamente combinado? A sério? Mas é fácil entender‐se porquê. Depois de previamente resolvido um imbróglio seu, em sede de PDMO, restava ainda acautelar outros interesses em sede do PUF e do plano de pormenor da Avenida João XXIII. Dada a impossibilidade de os votar, por manifesto conflito de interesses, o expediente óbvio foi a renúncia.
Ora bem, o uso e abuso de funções públicas em benefício próprio, é mais que meramente duvidoso e censurável. É criminoso e condenável, suscitando seja devidamente investigado pelas competentes instâncias.
2. Na edição de 17 de Dezembro do ano passado, na crónica sob o título “Segredos de Confessionário”, tive ocasião de me pronunciar acerca da temática dos abusos da Igreja. Referi apenas o meu caso pessoal, embora tenha conhecido outros. Tal não despertou especial comoção, nem polémica, nas consciências do pequeno burgo. Tive também oportunidade de esclarecer para o problema da prescrição. Se acaso ainda por cá andassem, rondariam os cento e muitos anos. Mas o infeliz dislate de Marcelo veio devolver à tona um assunto que se desejava permanecesse oculto e para sempre esquecido.
Se seguíssemos o mesmo tipo de raciocínio analógico‐estatístico do supremo magistrado da nação, isso levar‐nos‐ia sem pejo, a suscitar seríssimas dúvidas ao que se poderá ter passado nos seminários de Fátima, ao longo de quase quatro décadas, por onde passaram milhares de seminaristas, oriundos das mais recônditas aldeias e lugares do país, em regime de internato.
Tais números seriam bem exponenciais. Marcelo borrou a pintura, mas logo o primeiro‐ministro, a quem chamou mataborrão, veio em seu desagravo, para que a nódoa não alastrasse. Por último, se tratar antigos presidentes da república por senhores presi‐ dentes, constitui uma deferência importada dos países com regimes presidencialistas e semipresidencialistas, como os EUA e a França, já conceder o mesmo tratamento a antigos primeiros‐ministros ou ministros, é disparatado. Nem mesmo a Churchill conferiam semelhante cortesia. Mais uma do comentador Marcelo, que um dia disse de outro presidente, estava a ficar “lélé da cuca”.