A nossa actualidade movimenta-se entre um vírus que ainda não se foi e uma guerra que acaba de chegar, mas já vai tarde. Um tarda em partir e a outra já chegou, e chegou demasiado cedo. As nossas vidas vão-se desenrolando entre estas duas frentes de combate, que vão consumindo o melhor das nossas energias. Um, dizem-nos, veio de longe, da China! A outra chega-nos da Rússia e da Ucrânia. Vírus e guerra ameaçam eternizar-se e colocar a nossa humanidade em risco... de vida!
O Sudão do Sul ficava longe, bem como a Somália, Angola, Moçambique, Etiópia, Iémen... mas também El Salvador, Venezuela, Colômbia... eram referências perdidas numa África enorme e negra e numa América Latina pobre porque desgovernada. Porém, a guerra Rússia - Ucrânia desenrola-se aqui bem perto. Trava-se ali na esquina. Os ucranianos são nossos vizinhos e, dominados, pode ser a vez da União Europeia, pois passa a ser ela a vizinha de muros dos russos. E, com a voracidade com que Putin se atirou aos ucranianos, fazendo tábua rasa de toda uma ética de guerra é possível que não lhe falte a energia para ir mais além ou vir mais aquém. As guerras são sempre entre vizinhos, mais próximos ou mais afastados. Sejam as civis sejam as outras.
Ontem as notícias cercavam Damasco, Alepo e Bashar al-Assad, hoje cercam Putin, Kiev e Zelensky e não por boas razões.
Mas será que esta humanidade está condenada a ficar por aqui? A autodestruir-se, sem honra nem glória?
Verdade que os tempos não estão para grandes euforias e optimismos, mas eu acredito que alguma solução há-de surgir para que esta guerra seja ultrapassada e o vírus seja controlado.
Acredito que líderes como António Guterres e Papa Francisco ainda vão ser ouvidos e considerados nos seus esforços por uma humanidade que desejamos mais humana e mais igual.
Fico feliz ver um país, como Portugal, agigantar-se na sua pequenez territorial e populacional, partilhando o pouco que tem com quem menos tem neste momento. Mostram futuro, os jovens que se manifestam contra a guerra e a favor da paz... e é animador ver países como a Polónia, a Hungria, a Roménia, a Moldávia, a Eslováquia, vizinhos da Ucrânia, acolherem muitos milhares de refugiados ucranianos.
Se eu sou capaz de partilhar os meus bens com os outros (medicamentos, alimentos, vestuário, calçado etc...) estou no bom caminho para a construção da paz entre os povos.
A tempos de desânimo há que contrapor tempos de coragem, de acção, de participação. Precisamos de não deixar tudo para os outros fazerem como se estivéssemos dispensados de ajudar na construção dum planeta melhor... há ainda muito para fazer.
Complementando o pensamento anterior, deixo esta frase de Dietrich Bonhoffer, um magnífico lema para estes tempos, Começa onde estás, usa o que tens, faz o que puderes. Não te demitas, faz o bem!