Este ano repetem‑se em Fátima as tradicionais Festas em Honra do Santíssimo Sacramento e Sagrado Coração de Jesus.
‑ São as mais importantes! ‑ diz a minha avó.
Desta vez calham‑me os 40. 40!! O tempo passa mesmo a correr. Quis o destino que as emblemáticas festas, fenómeno da tipicalidade tão portuguesa, sejam sempre no mesmo mês do meu aniversário. E assim vou de festejo em festejo abrir a cortina dos “entas” e ver o que o futuro me reserva. Mas não nos apressemos.
Para já deixo duas reflexões. A primeira sobre as festas em si. São as redes sociais dos tempos antigos, todas juntas e misturadas, mais naturais como é óbvio, mas no sentido em que toda a gente se encontra e se revê. Os que trabalham fora, os que foram e voltaram e os que toda a vida por cá ficaram. Todos iguais, todos diferentes, cada um com a sua história. Iguais no ano de nascimento, nas recordações de infância em que brincávamos juntos e começámos a descobrir a vida, as relações humanas e as pessoas. Diferentes nas experiências que cada um construiu, nos sonhos que conseguimos atingir e nos momentos que coleccionámos.
Estas festas são muito importantes para a definição histórica e a manutenção do cordão umbilical com a nossa terra. Mas são também fenómenos de conceitos antigos tão em voga nos dias de hoje. A igualdade e a amizade. Ali somos todos iguais. Uns vendem rifas, outros servem frangos, uns passam música, outros cozinham. A ideia é a mesma, confraternizar, conviver, reviver e reavivar memórias que a nossa memória naturalmente vai buscar assim que se vê um daqueles que na altura eram mais próximos, mais especiais. Estes momentos ajudam‑me também a fazer uma reflexão sobre o quão feliz fui por essa altura mas também o que faltou e continua a faltar aos jovens da nossa terra. A cultura, as artes mas sobretudo as indústrias criativas. São poucos os espaços públicos vocacionados para dinamizar eventos culturais e quase nula a oferta criativa que nos é apresentada. Sem ser a espaços alguns focos associativos, a diversidade não existe, a produção é escassa e por consequência o enriquecimento dos mais novos vai se mantendo muito mais limitado do que em outros pontos do país.
Faltam peças de teatro, produção de conhecimento, incentivo à representação, comunicação ou artes performativas, espectáculos musicais ou literários, laboratórios tecnológicos ou desenvolvimento de incubadoras criativas. Todos estes factores e todas estas áreas estão directamente relacionadas com o desenvolvimento intelectual e humano. Na capacidade de percepção de novos conceitos e conteúdos e na adaptabilidade relativamente às valências que possuímos. É por isso, mais do que altura, da nossa terra dar o salto e conseguir criar condições para que os nossos jovens, tenham as mesmas oportunidades que tantos outros. Para que possam crescer e se possam desenvolver através da capacidade crítica, da criatividade ou de qualquer uma veia artística mais apurada. Sem isso sobrará com toda a certeza menos futuro ou pelo menos um presente mais difícil e condicionado.
Aproveito para desejar boas férias a todos os leitores do jornal Notícias de Fátima.