Um dos grandes clássicos da literatura contemporânea, “Em nome da Rosa” catapultou o italiano Umberto Eco para a fama. O romance histórico que se passa na Idade Média é sobre uma série de circunstâncias insólitas que ocorrem num mosteiro isolado no Norte de Itália, entre diversas ordens religiosas. O escritor acabou por nunca justificar verdadeiramente o título que escolheu, o que é certo é que a obra foi adaptada para o cinema em 1986 e tornou-se num dos meus filmes preferidos. Coincidência ou não, em Fátima cidade que acolhe também ela diversas ordens religiosas, temos um Rosa, também de 86 que mesmo não sendo frade se tornou numa referência incontornável do ciclismo nacional.
Acredito (aliás a história mostra-nos isso), que grandes sociedades, são forjadas à custa de grandes exemplos. Fátima não será por isso, diferente. Numa terra onde tudo remete para a religião, é bom que de quando em vez existam pessoas, que pelo seu sucesso, mostrem aos outros que por cá também há pessoas que existem, que são capazes de vencer lá fora e que se tornam num orgulho que trespassa as nossas “fronteiras”. O David não sendo seguramente caso único, é um verdadeiro caso de sucesso que merece ser amplificado e devidamente homenageado por tudo o que representa.
O primeiro ciclista português em provas de BTT nos Jogos Olímpicos (2012), façanha que repetiu em 2016, anunciou há poucos dias o fim de uma carreira incontornável, depois de vários campeonatos ganhos e muitas provas conquistadas. Mesmo no seu “capítulo final”, é fundamental que saibamos preservar e dignificar aqueles que tão bem nos representam e foram representando durante anos e ter a capacidade de saber passar às gerações futuras, o que são os valores não só do desporto como da vida. Nada melhor do que termos casos de sucesso que mostrem aos mais novos (mas não só) que com trabalho, esforço e dedicação, não existem limites, independentemente de onde nascemos e que com a motivação certa podemos ir mais longe e concretizar todos os nossos sonhos.
Não sei se Eco se estaria a referir ao David quando escreveu a sua obra, presumo que não, ainda assim o meu desejo é que cá por Fátima, em nome do Rosa, se aproveite a sua carreira brilhante e que estes estímulos de campeão sejam fundamento para que se criem condições nestas e noutras áreas para que no futuro tenhamos cada vez mais jovens a trilhar o mesmo caminho. Muitas vezes, no nosso país, é mais fácil conquistarmos reconhecimento fora da nossa cidade e da nossa comunidade e cabe-nos também a nós inverter essa tendência, dando valor aos muitos valores que por cá vão aparecendo.