Se formos analisar aquilo que tem sido a história mundial dos últimos 50 anos, chegaremos facilmente à conclusão que provavelmente nunca de uma forma tão transversal, existiu um acontecimento que tivesse influenciado a vida de tantos. Estaremos por isso, ainda longe de observar as sequelas sociais e económicas que se estenderão pelos anos vindouros, mas também as determinações do foro físico e psicológico. Uma coisa temos como certa, porque já a sentimos na pele: O desgaste brutal a que fomos submetidos, a mudança no estado de espírito, o cansaço mental e a necessidade urgente em desligar, fazer um reset. Retemperar forças para voltarmos “à luta” mais fortes e determinados.
É bom não esquecer, para aquelas mentes mais exploradoras, que aquilo que passámos neste período de isolamento, não foram férias, que não estivemos descontraídos em paraíso algum, não fomos a banhos nem pudemos relaxar em paz e sossego. Andámos aflitos e confusos pela incoerência das notícias que nos chegavam todos os dias. Trabalhámos o dobro, porque fomos acometidos por um confinamento que nos levou para “caminhos nunca dantes navegados”, ou seja, tivemos que lidar com uma alteração total das rotinas, que nos retirou o equilíbrio trabalho/casa e que nos forçou a um desgaste enorme nas relações familiares, que nos criou desejos escondidos na procura de algo diferente e que nos foi cansando à medida que a tensão foi aumentando.
Todas essas razões que acabei de enumerar, são por isso fundamento para que percebamos que tirar umas férias nos tempos mais próximos (se tivermos capacidade para isso claro), assume factor essencial para a nossa sanidade mental. Nem que seja uma escapadinha de dois ou três dias à praia mais próxima. Eu sei que numa altura destas, com toda a incerteza, falar de férias pode parecer absurdo. Não estou a falar de ir para fora, gastar milhares de euros numa ilha paradisíaca. Refiro-me a agarrar no carro com a família e partir por esse Portugal que nos revela segredos inimagináveis e recantos mágicos, que nos podem ajudar por momentos, a esquecer as agruras da vida e nos deixem a sonhar um pouco.
Se o trabalho está escasso e os nosso projectos parecem ter sofrido um revés, se vivemos com esta ansiedade permanente de não sabermos como vai ser o dia de amanhã, que nos sobre pelo menos um cantinho de disponibilidade mental para sairmos do espaço onde fomos aprisionados durante os últimos meses e procuremos um pouco de ar puro. Uma vista diferente. Não há maior magia que um mergulho no mar. Não deixem de sonhar mesmo quando tudo parece perdido porque se olharmos bem à nossa volta, não faltarão razões para nos levantarmos de novo. E levantaremos com toda a certeza. Por agora resta-nos aguentar, respirar e não entrar em desespero. Nunca a ideia de férias pareceu tão absurda e se revela ao mesmo tempo tão necessária e sensata…