Dizia há uns meses, um dos principais conselheiros do Rei de Marrocos, que uma das coisas que achava mais estranha na visão portuguesa para o futuro, era pouco ser feito com o pensamento a 10/15 anos. Que no seu país, hoje em dia, pensava-se em medidas que pudessem impactar a médio prazo e trazer valor acrescentado para o futuro porque o presente já passou. De facto no nosso país reforma-se pouco, pensa-se ainda menos e quando vemos medidas serem implementadas são quase todas para tapar buracos, para tentar resolver problemas no curto prazo, sem qualquer estratégia sobre o que vai representar bem mais à frente. Facilmente percebemos, até pelo andar, que inconscientemente, quando damos um passo estamos a preparar o próximo, sob pena de perdermos o equilíbrio. Assim é também a vida e assim também deveria ser a visão política para a sociedade.
Em Fátima, cidade marcadamente religiosa e que depende em grande parte do fluxo de turismo religioso que daí advém, todos sabemos da importância que tem a vinda de um Papa num determinado ano, as comemorações do 13 de Maio ou neste caso mais próximo as Jornadas da Juventude que se avizinham. Não será por isso difícil de perceber que não pensar nestes eventos conjunturais de uma forma estrutural é perder oportunidades de ouro para crescermos e construirmos as bases para o nosso próprio futuro. São no fundo oportunidades perdidas que nunca mais se recuperarão, da mesma forma que um quarto de hotel que não se vende num dia jamais será vendido. É-me por isso difícil de perceber a expectativa criada para que estas jornadas sejam mais um momento gordo, que até se pode estender pelas semanas anteriores ou que virão a seguir mas que não tragam consigo uma visão para Fátima do futuro, que não abarquem espaço para um debate amplo, aberto à sociedade, sobre as medidas que devem ser tomadas para estruturar a cidade e para dotá-la de uma capacidade revigorante e evoluída que a transporte para uma outra dimensão e não se esgote no momento.
Há muito que sabemos que a marca Fátima é muito mal trabalhada para não dizer inexistente. Não sou eu que o digo, são as próprias agências de comunicação que o fazem reflectir nos seus estudos. A verdade é que vão mudando as câmaras e os políticos mas continuamos à espera de soluções para combater a sazonalidade, formas de atrair os mais jovens e capacidade para desenvolver conteúdos que façam as pessoas ficar mais tempo, terem o que fazer antes ou depois de irem rezar ao Santuário. Já nem peço para sermos criativos (haveria tanto para dizer…) mas que se tentem transportar os bons exemplos e dar-lhes uma roupagem nossa.
Conheço pessoas de vários credos e religiões que sentem uma paz inexplicável quando cá passam, que vivem a sua espiritualidade sendo ou não católicos e que gostam genuinamente de vir a Fátima. Mas a verdade é que invariavelmente todos se referem ao “ir ali acender uma velinha”, rezar uma Avé Maria à capelinha e regressar a casa.
Hoje em dia com as excelentes vias e transportes faz-se tudo num dia e ainda sobra para se porem a caminho de Lisboa, Porto, Óbidos ou seja que destino for.