Depois de uma espécie de vírus jornalístico televisivo ter assestado baterias contra Fátima, com o aplauso generalizado de um jacobinismo republicano que teima em subsistir, a “montanha pariu um rato”, como sói dizer-se. Nos dias 12 e 13 de Outubro reduziu-se a lotação do recinto do Santuário, os círculos desenhados no chão foram respeitados e, nesta época excepcional que vivemos, muitos peregrinos acabaram por não marcar presença na que tradicionalmente é uma das mais concorridas peregrinações anuais.
A pandemia teve também um aspecto positivo, levando as pessoas a perceberem o importante papel aglutinador de Fátima, não só sobre o ponto de vista religioso, mas também económico (a nossa cidade directa ou indirectamente dá emprego a pessoas de uma vasta região) e social.
Nesta época de profunda crise, temos de deixar um reconhecimento sentido ao esforço da Aciso, da Câmara e Assembleia Municipal que se têm desdobrado em contactos para tentar superar as nuvens negras que se vão acumulando na hotelaria, restauração e comércio da nossa cidade. No dia 12 de Agosto, a Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, deslocou-se a Fátima para uma reunião de trabalho promovida pela Aciso, estando presentes empresários fatimenses, a Câmara Municipal de Ourém e Jorge Almeida, da Entidade Regional de Turismo Centro de Portugal.
Pela primeira vez nas últimas décadas há uma preocupação genuína por parte da autarquia em ter uma visão de futuro, tendo apresentando propostas concretas a curto prazo, o “Plano de Retoma do Turismo Religioso”, complementadas com medidas estruturais num horizonte temporal de dez anos, apostando numa maior diversidade na oferta turística concelhia.
No dia 1 de Outubro, Marcelo Rebelo de Sousa esteve em Fátima com o presidente da Confederação do Turismo, para um jantar de trabalho com empresários do sector da hotelaria e turismo, o presidente do Município, e o reitor do Santuário de Fátima.
No dia 15 deste mesmo mês, o líder parlamentar do PSD, Adão Silva acompanhado pelos deputados eleitos pelo distrito de Santarém, reuniram-se na nossa cidade com autarcas locais, com a Reitoria do Santuário e com empresários dos ramos da hotelaria, restauração e comércio. Na sequência desta visita, o PSD agendou um debate de urgência no Parlamento sobre a difícil situação económica e social vivida em Fátima, com o objectivo de sensibilizar o Governo a tomar metidas que ajudem a que “as pessoas acautelem os seus empregos e que as empresas consigam sustentar os seus empregados”.
A ver vamos se estas iniciativas têm resposta no orçamento de Estado que está agora a ser discutido.
Não queria terminar esta crónica sem falar de um artigo do jornalista Adriano Miranda na edição do Público de 18 de Outubro, intitulado Chorar em Fátima. Permitam-me partilhar duas passagens deste confesso ateu sobre a peregrinação do dia 13:
“Fui descendo e fui encontrando a comoção colectiva. Um silêncio de arrepiar. Um respeito enorme. (…) É a fé que os move. Eu chamo convicção. (…) Ajoelho-me num círculo. Quero experimentar. Sentir aquele silêncio. A luz suave da vela. Um ateu ajoelhado perante Deus. Não sei dialogar com Ele. Nunca aprendi a rezar. Olho o céu e choro. Sem vergonha. A liberdade é tão bonita... Apeteceu-me dizer aos companheiros dos círculos ao lado que sou ateu, que me ensinem como é sentir o que eles sentem. Que importa? Senti o coração a abrir-se e descobrir que também sou uma árvore frondosa como o meu pai e a minha mãe desejaram que eu fosse. Ali havia paz. Ali éramos todos seres humanos iguais, em círculos de fé.”
Este é o “milagre” que ainda hoje se vive e partilha no recinto do Santuário.