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José Poças

19 de abril, 2020

A mola e o desafio do futuro

Sempre que os responsáveis de saúde utilizam a metáfora da mola que é preciso segurar para que a pandemia não se espalhe, vem‑me à lembrança um conto da minha infância sobre um herói improvável na Holanda, país com quem agora, pelos vistos, estamos de costas voltadas. Como se sabe, uma boa percentagem do território foi “roubado” ao mar, com a construção de diques. O grande problema, ainda hoje, é a sua segurança. Reza uma antiga lenda que um rapazito chamado Hans Brinker teria descoberto um buraco num dique, por onde a água começava a jorrar com grande intensidade. Para evitar uma tragédia, passou a noite inteira com o dedo enfiado no buraco, lutando contra a fome, o frio e o sono. Só o encontraram na manhã seguinte, acabando por consertar o dique, evitando a possível inundação das aldeias próximas. Neste tempo de incertezas e de quarentena, permitam‑me umas breves reflexões sobre o momento que vivemos.

 

1. Não sei se já repararam, mas as notícias em relação aos profissionais de saúde passaram, no espaço de poucos meses, das agressões a um aplauso generalizado pelo seu esforçado trabalho na contenção da epidemia.

 

2. Numa altura em que se libertam os presos mais vulneráveis (não cabe agora discutir esta medida), já foram presas quase 200 pessoas por desobediência civil. Já agora vão ser presas onde? Nas celas daqueles que foram libertados?

 

3.Esta pandemia tem efeitos devastadores na economia, que o diga o nosso sector comercial e hoteleiro de Fátima. Infelizmente, é também nestas alturas que surge o “chico espertismo”. Um simples exemplo. A Brisa, que o ano passado teve um lucro líquido de 204,5 milhões accionou o mecanismo para ser indemnizada pela quebra das receitas nas portagens. Recordo que em 2018 foi perdoada a esta empresa, pelo Estado, uma dívida de 125 milhões ao fisco.

 

4. Não cabe ainda fazer o balanço final (esta maldita mola não deixa) da actividade da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal. Não posso, no entanto, como fatimense, deixar de expressar o meu mais profundo reconhecimento ao trabalho camarário que, desde a primeira hora, soube tomar algumas medidas importantes para defender os seus munícipes. Quanto à Junta, o presidente Humberto mais uma vez arregaçou as mangas e tem sido inexcedível, quer no apoio aos mais carenciados e às instituições, quer na prevenção possível da pandemia, com acções de desinfecção por toda a freguesia. Estamos hoje, segundo dizem as autoridades da saúde numa espécie de planalto no que toca à epidemia do Corona Vírus. Na minha última crónica descrevi as consequências nefastas da pneumónica de 1918 ‑1919, que vitimou, entre outros, Jacinta e Francisco Marto. Em Portugal o número oficial de vítimas, com grande predominância na faixa etária até aos 35‑40 anos, foi superior a 60 mil.

 

A doença varreu o país a uma grande velocidade e apanhou as autoridades sanitárias completamente desprevenidas, até porque ainda se desconhecia a existência do vírus. O certo é que os nossos antepassados conseguiram recuperar dessa pandemia. Um dos grandes símbolos desse querer e dessa resiliência foi e é a construção da cidade de Fátima. Mais uma vez somos atingidos por uma calamidade com contornos idênticos. E mais uma, vez, estou certo disso, com mais ou menos dificuldade, vamos ser capazes de nos reerguer. São tempos difíceis estes que vivemos, mas como diz o velho ditado português, “depois da tempestade há‑de vir a bonança”, e nós cá estaremos para construir esse novo futuro.

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