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José Poças

1 de julho, 2021

A vaca não dá leite

A segunda figura do Estado português, o presidente da Assembleia da República, vai dando o seu valioso contributo político neste país à beira mar pasmado e resignado. Depois da célebre declaração nas comemorações do 25 de Abril em que recusou o uso de máscaras no parlamento, com a célebre tirada “Então nós íamos mascarados?", enquanto o resto da população era obrigada a cumprir as normas pandémicas, brindou-nos agora com mais um episódio caricato em período de agravamento da COVID em Portugal e Espanha. Do alto da sua sabedoria política, fez um vibrante apelo para que os adeptos portugueses se deslocassem "massivamente ao sul de Espanha" para assistir ao jogo com a Bélgica.

 

Percebendo a gravidade do seu incentivo, acabou por não ir a Sevilha. Mas não resistiu em dar mais um brilhante exemplo aos portugueses. Enquanto os lisboetas eram fortemente controlados para não poderem sair da capital, o senhor presidente da Assembleia da República resolveu passar este fim de semana, na praia de Altura no Algarve onde, curiosamente, também estava a directora-geral da Saúde, Graça Freitas. Sem comentários…

 

Agora que acabou a nossa participação futebolística no Europeu talvez consigamos ligar a coisas “sem importância”, como por exemplo o aumento do preço da gasolina, que atingiu o preço mais alto desde 2012. Pagamos mais 26 cêntimos por litro do que em Espanha. E já que falamos neste país, o governo socialista de Pedro Sánchez tem uma visão muito diferente do socialista português, António Costa. Enquanto por cá se aposta no crescimento do Estado (há que apoiar a clientela política) com o dinheiro da "bazuca”, o plano España Puede aposta na aliança do governo às grandes, médias e pequenas empresas (PME) para criar emprego, pelo que receberão, pelo menos, um décimo da “bazuca” em ajudas directas. Além disso, o governo espanhol optou por apostar fortemente na parceria com os principais investidores públicos e privados, que terão de duplicar o investimento do dinheiro que lhes for atribuído. Coisas dos nossos hermanos…

 

E todas estas reflexões acabam por me lembrar uma história contada pelo filósofo brasileiro Mário Cortella. Havia um sábio homem que tinha prometido ao filho que, quando fizesse 12 anos, lhe contaria o segredo da vida. Quando chegou esse dia o filho, que mal tinha dormido, acordou o pai ansioso por descobrir o dito segredo. Sentando o filho no sofá, o pai disse simplesmente:

- O segredo da vida é esse, anote aí meu filho: “Vaca não dá leite”.

- Hã? – Perguntou surpreendido o filho.

- Isso mesmo, vaca não dá leite meu filho, você tem que o tirar. Tem de alimentar a vaca todos os dias. Tem de cuidar bem dela. Depois precisa acordar às 4 horas da manhã, vestir-se, ir ao curral cheio de fezes, amarrar a perna da vaca para não levar um coice, tem de sentar no banquinho e fazer o movimento certo. Ou você tira ou não tem leite. Esse é o segredo da vida.

 

Existe uma geração de políticos que acha que a vaca dá leite, que nunca se esforçaram por trabalhar fora dos “jobs for the boys” e que acham que o “leite” doscontribuintes serve para pagar os seus ordenados, as suas regalias e a sua falta de visão no futuro. Que acham que o Estado pode ser cada vez mais despesista porque há-de haver sempre quem dê “leite  (leia-se aumento de impostos) para o sustento da pesada máquina burocrática-partidária do Estado. E assim vamos (sobre)vivendo.

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