Ainda há menos de um mês se comemorou o 25 de Abril, dia em que os nossos valorosos governantes fizeram discursos sentidos, de cravo ao peito, recorrendo veementemente a palavras de ordem como Liberdade e Democracia. Embalados por estes sentimentos, na Assembleia da República votou-se (novamente) a Lei da Eutanásia, com o argumento de que somos donos do nosso corpo. Também se aprovou, há alguns anos, o estabelecimento das “salas de chuto”, ou seja, de consumo assistido, locais onde os toxicodependentes vão poder consumir droga, estando vigiados por técnicos e tendo à sua disposição material descartável.
Curiosamente o mesmo PS surge agora com uma lei fundamentalista, com argumentação contrária às outras duas. Diga-se de passagem que é uma matéria onde sou completamente insuspeito até porque, passada a fase de exploração própria da juventude, nunca mais fumei e confesso que me incomoda o fumo do cigarro.
O que está em causa é a prepotência com que se atropelam direitos fundamentais. Em vez de se privilegiar a responsabilidade, proíbe-se, multa-se, castiga-se. Não se pode perseguir ou marginalizar uma pessoa, tratá-la como se fosse um criminoso, só porque tem dependência do tabaco.
Para justificar as medidas, a “inquisidora” secretária de Estado da Promoção da Saúde, Margarida Tavares, refere que “cerca de dois terços das causas de morte nos fumadores são atribuíveis ao consumo do tabaco.” Se está tão preocupado com a saúde pública, seria interessante que se preocupasse com o tempo de espera para uma consulta da especialidade ou de uma cirurgia. Ou que arranjasse médico de família para um milhão e 700 mil portugueses. Ou que acabasse com as filas vergonhosas para marcar consultas nos Centros de Saúde…
Esta lei em nada vai resolver o problema dos que são viciados em tabaco. Para além da destruição dos pequenos negócios de cafés e similares, vai incentivar o contrabando e as negociatas, permitindo a proliferação de mafias no nosso país que vão lucrar imenso com o tráfico de tabaco.
Há pessoas que apostam na pureza da raça humana. Como no passado. Os mesmíssimos defensores da eutanásia são agora os que vêm defender o fim do tabaco porque mata muitas pessoas. De seguida teremos por certo um ataque legislativo aos que comem enchidos, queijos ou doces em nome do fim dos diabetes. Sendo nós os maiores consumidores de vinho haverá um dia em que serão impostas medidas restritivas para acabar com os bêbados, pois claro. Espanta esta facilidade com que o governo impõe proibições às pessoas e a facilidade com que as pessoas as acatam.
O que me causa confusão hoje em dia não é a loucura que vivemos, mas a mediocridade dessa loucura que nos é imposta por decreto. Em 1932, já Aldous Huxley previa este futuro no seu livro Admirável Mundo Novo:
“Sim, é bem o modo dos senhores procederem. Livrar-se de tudo o que é desagradável, em vez de aprender a suportá-lo. (…) As pessoas (…) sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não têm medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; (…) são condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem.”
Não poderia deixar de escrever uma nota final sobre o 12 e 13 de Maio em Fátima. Contrariamente aos profetas da desgraça que previam que os recentes escândalos à volta da Igreja Católica iriam destruir a nossa fé e levariam a uma grande diminuição de peregrinos que procurariam o Altar do Mundo, a resposta não podia ter sido mais esclarecedora. Permitam-me partilhar uma fotografia que me sensibilizou pelo seu significado simbólico.
Tirada por um grupo de peregrinos, foi colocada no Facebook com a seguinte legenda “31 pés foram, chegaram e voltaram de Marvila a Fátima”. É também por e para todos estes peregrinos que Fátima continua actual, como escola de formação e vivência litúrgica, centro de espiritualidade, de reconciliação e da paz