Por uma questão de velha amizade em relação a um dos candidatos assisti, na terça‑feira, ao debate entre os partidos que não têm assento parlamentar e que concorrem às eleições no dia 30 de Janeiro. Verdade seja dita que fiquei surpreendido com quase tudo. Desde logo pelo moderador do Canal 1 da nossa televisão pública. Com um ego do tamanho do mundo, este jornalista mais parecia um agente da inquisição. Quando a resposta não lhe agradava, interrompia, questionava de forma abrupta, quase que batia nalguns dos intervenientes. É certo que dá para perceber porque é que alguns destes partidos têm tão fracos resultados. As suas propostas são absurdamente extremistas e/ou a fragilidade dos seus argumentos é confrangedora. Mas, no entanto, vivemos em democracia participativa, com a possibilidade das pessoas poderem defender as suas ideias, de as poderem apresentar aos portugueses. E permitirem‑nos escolhê‑las sensatamente. Sem uma nova censura, em nome do politicamente correcto.
A História tem provado que os extremismos (de direita ou de esquerda) só aparecem e crescem numa sociedade que já não acredita nos seus políticos “tradicionais”, que está farta de más governações, de corrupção, etc, etc. Portanto, o espantalhoque os partidos do ciclo do poder agitam em relação ao extremismo vai um pouco no sentido daquele velho aforismo que diz que “quando apontamos um dedo a alguém, esquecemos que temos três dedos apontados para nós”. O aparecimento do extremismo é, em parte, culpa de quem nos governa (sozinho ou em coligação) ou de quem, na oposição, também pouco ou nada consegue resolver, de concreto, a uma população martirizada com impostos ou com grandes problemas sociais e económicos.
Também extremamente engraçado (palavra simpática) é o facto de logo a seguir aos debate todas as televisões generalistas apresentarem um leque variado de comentadores e pseudo‑comentadores, grande parte deles ligados a partidos políticos. Chega‑se ao extremo de colocar frente a frente, logo a seguir ao debate entre António Costa e Rui Rio, um comentador do PS (por acaso deputado) e um ex‑deputado do PSD. Nenhum deles tem a mínima isenção para pode comentar o que quer que seja.
E já que estamos a falar dos debates entre os partidos com actual representação parlamentar é confrangedor como são apenas abordados os temas de forma muito geral, sem aprofundar o que pensam em relação à educação, à saúde, à coesão territorial, à desertificação do interior, ao ambiente (não, não estou a falar das propostas dos partidos fundamentalistas nessa área), à justiça, entre outras temáticas estruturantes. Também aqui os moderadores foram demasiado agressivos com alguns partidos e, curiosamente ou não, demasiados permissivos com os poderosos ou com o partido de estimação de muitos jornalistas (ainda um dia se há‑de saber porquê), o Bloco de Esquerda. Nem uma única palavra foi dita sobre a reforma do actual sistema eleitoral. É uma vergonha que no dia 30 de Janeiro sejamos enganados, votando na lista de um partido que, se ganhar as eleições, vai arranjar “tachos” no governo e Direcções Gerais para os primeiros candidatos, passando nós a ser representados pelo 7º ou 8º da dita lista, que ninguém conhece e a quem não se reconhecem grandes capacidades como parlamentares.
É mais do que tempo de adoptarmos os círculos uninominais. Alguém que tenha um rosto (que não se esconda numa lista) e nos represente directamente no Parlamento. É pena que nestas eleições, pelo distrito de Santarém apenas o PSD tenha um candidato do nosso concelho em lugar elegível, João Moura. Longe vão os tempos em que essa era a bandeira do PS local. Um dos temas que deveria ter estado em cima da mesa e que merecia um debate sério é o da regionalização. Os partidos apenas se referiram genericamente à intenção de avançar na discussão desta temática em 2023. Para o ano será, pois, o tempo certo de nos sentarmos calmamente, sem interesses pessoais de afirmação pessoal ou político‑partidária e, em conjunto, começarmos a discutir com bases sólidas de argumentação, a possível criação do concelho de Fátima.