Neste período em que o Jornal Notícias de Fátima entrou em férias (pequeninas) dei-me ao trabalho de ir “coleccionando” algumas das notícias que iam saindo e que me suscitam verdadeiras interrogações sobre a sanidade mental de todos nós. Ou, se calhar, sou eu que estou a ser melodramático demais...
1. Na semana em que foi anunciado o balanço dramático a nível económico - até Maio desapareceram 183 mil empregos e o futuro apresenta-se com grandes nuvens negras - o Benfica anunciou a contratação de Jorge Jesus. Não só as verbas são astronómicas, como se prevê a contratação de jogadores de topo, com os respectivos salários, pois claro. É óbvio que outros clubes nacionais vão seguir o mesmo caminho. O problema é que estamos a passar por uma profunda crise e grande parte destes salários têm por base empréstimos bancários, os tais que deviam servir para criar empregos e riqueza. Mas, como já diziam os imperadores romanos na Antiguidade, enquanto houver Circo, o povo está feliz e não pensa em mais nada. Assim vai o nosso desporto.
2. Por iniciativa do presidente do PSD, Rui Rio, foi votada uma proposta para que acabassem os debates quinzenais com o primeiro-ministro. Com o apoio do PS (porque será?), o primeiro ministro passará a ter presença obrigatória no Parlamento apenas de dois em dois meses. A votação dividiu as bancadas socialista e social democrata. No PS votaram contra 28 deputados e abstiveram-se outros cinco parlamentares, enquanto no PSD votaram contra sete deputados, violando a disciplina de voto imposta pela direcção nacional do partido. Afinal ainda há gente com coragem para defender os ideias democráticos. Depois admiram-se que um partido populista já esteja em terceiro lugar nas intenções de voto. Assim vai a nossa política.
3- Segundo o Governo, entre Março e Maio fizeram-se menos 1,1 milhões de consultas. Os médicos contrapõem que a quebra foi de 3 milhões, porque muitas teleconsultas não são mesmo consultas. Em Julho, o aumento de óbitos foi de 26% face ao mesmo mês de 2019. Especialistas apontam falhas no acesso aos serviços de saúde. Não são efeitos — pelo menos directos — da covid-19, já que apenas 1,53% das mortes (159 do total) se devem à dita pandemia. Segundo António Vaz Carneiro, especialista em medicina interna, temos uma população altamente negligenciada, doentes crónicos com múltiplas doenças que não estão a ser acompanhados. Assim vai a nossa saúde.
4. Na última semana houve dois acidentes ferroviários graves A partir de 2018, a empresa pública liderada por António Laranjo tinha sido alertada várias vezes pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes Ferroviários, para os riscos de acidentes naqueles e noutros locais. Não aplicou nenhuma das alterações propostas, por “falta de cabimento económico”. Afinal (e correndo o risco de ser populista) é preciso dinheiro para pagar a todos os gestores nomeados pelo Governo. Assim vão os nossos transportes públicos.
5. O Novo Banco vendeu mais de 13 mil imóveis a um fundo anónimo sediado nas ilhas Caimão, emprestou dinheiro a quem os comprou, acabando por registar elevados prejuízos naquele que foi o maior negócio imobiliário dos últimos anos em Portugal. Trata-se do mesmo banco que recebeu do Estado um empréstimo público de 850 milhões de euros. Cabe agora ao novo governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, averiguar se os interesses do Estado português foram devidamente acautelados pelo antigo ministro das Finanças, que concedeu esse empréstimo em 2017 e que era, na altura, curiosamente, Mário Centeno. Não fique confuso, isto da política tem estas coisas. Entretanto, a auditoria à gestão do Novo Banco, que há duas semanas António Costa prometeu que seria conhecida até ao fim do mês de Julho, continua por concluir. Assim vai a nossa economia.
José Poças