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José Poças

21 de janeiro, 2021

Covid(ados) somos todos nós

É inacreditável o que se tem passado no nosso país. Com o facilitismo com que encaramos agora o COVID, vamos pondo em perigo a saúde de todos nós. Apesar das notícias alarmantes, em que já se morre nas ambulâncias à porta dos hospitais, comportamo‑nos como os negacionistas americanos.

 

Tudo vale para sair do confinamento. Afinal, havendo 52 excepções, com jeitinho encontramos sempre uma desculpa para poder sair de casa. O prémio da criatividade vai no entanto para alguns habitantes de Cascais. Numa reportagem televisiva, o presidente da Câmara insurgia‑se por terem sido apanhadas algumas pessoas a passear com uma trela na mão. Quando eram interpeladas pela polícia explicavam (?), candidamente, que o cão tinha fugido e que andavam à sua procura.

 

O problema é que o Governo se permite também estar em negação. Quem decidiu que iria haver desconfinamento no Natal? Como correu mal, o Primeiro Ministro sacode a água do capote e responsabiliza os portugueses. Se corresse bem, apareceria em todos os telejornais a reclamar o êxito da sua política. Repare‑se na estratégia (leia‑se propaganda) do Governo, presente com grandes comitivas em todos os hospitais quando começou a vacinação.

 

Qual foi a mensagem que passaram então aos portugueses? Que tudo ia ficar bem, certo? Por outro lado, pediram aos portugueses para não deixarem de ir votar nestas eleições presidenciais. Com cuidado, mas com confiança.

 

Sabendo de antemão quantas pessoas iriam votar antecipadamente, não houve a preocupação do Ministério da Administração Interna verificar, em coordenação com as Câmaras Municipais, se haveria mesas suficientes de voto para evitar aglomerações.

 

O resultado lógico desta medida, tomada em cima do joelho, foi o esperado. Longas filas, em que dificilmente as pessoas mantinham o distanciamento exigido. Agindo de forma eleitoralista, o Governo continua teimosamente a assobiar para o lado e a não atender às estatísticas deste início do ano que apontam para que, logo a seguir aos idosos, os dois grupos que apresentam mais percentagem de infectados são os das faixas etárias dos 18 aos 25 e, logo em seguida, dos 13 aos 17. Continua a fazer ouvidos moucos à grande maioria dos epidemiologistas e médicos hospitalares, que apelam ao encerramento temporário do ensino presencial secundário e universitário.

 

Curiosamente, foi este governo que através do Decreto Lei nº 20 – H/2020 de 14 de Maio, que estabeleceu medidas excepcionais de actividades educativas no âmbito da actual pandemia para apoiar alunos carenciados, caso fossem implementado o dito ensino à distância.

 

Acordámos também agora para a realidade dos lares ilegais. O Governo (e todos os outros) nunca teve capacidade para criar uma rede de lares a nível nacional e foi fechando os olhos ao “desenrascanço” local. Curiosamente, não há uma campanha de indignação (onde estão os partidos da extrema esquerda?) contra estes lares privados, exigindo que o Estado cumpra os seus deveres sociais. Já no que respeita aos hospitais privados, que funcionam de forma exemplar, há uma perseguição feroz.

 

Parafraseando João Miguel Tavares “se temos nas mãos um Fiat Punto, ele nunca vai acelerar como um Ferrari. (…) Costa e Centeno podiam não ter passado quatro anos a pintar o Punto de vermelho e a fingir que assim ele ia chegar aos 200.” É por estas e outras que temos uma população altamente negligenciada, doentes crónicos com múltiplas doenças que agora são postos de lado, para se poder socorrer os doentes com COVID. Onde está o plano B do Governo, prevendo a ruptura no Serviço Nacional de Saúde para os doentes que não têm COVID?

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