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José Poças

3 de dezembro, 2020

Longe vão os tempos em que os exemplos vinham de cima

Vivemos tempos estranhos em que parece que o País está novamente dividido em classes sociais. Há os que têm de estar confinados e são controlados em nome da pandemia, não podendo circular, ter o seu comércio aberto, ver a família, etc, etc (e aqui não há conquistas de Abril que nos valham) e os que, em nome dessas mesmas conquistas de Abril, podem fazer tudo, porque pertencem à classe social política. Longe vão os tempos em que os exemplos vinham de cima. 

 

Os patrões da TAP (entre eles o sócio maioritário que é o Governo Português) anunciaram que a empresa portuguesa de aviação, para ter viabilidade, terá de despedir 1600 trabalhadores até ao final do ano. Tudo isto apesar dos milhões de euros que já recebeu do Estado, ou seja, pago com os nossos impostos. O ministro Pedro Nuno Santos explicou, com ar sério e compungido, que “a empresa não pode ficar com pessoas que não têm trabalho”. Estranhamente, no início de Novembro, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, veio à televisão explicar que quem converter empréstimos em crédito a fundo perdido está obrigado a manter os postos de trabalho. Para além de terem de ter a sua situação financeira regularizada junto do fisco, da segurança social e do sistema bancário, as empresas beneficiárias não poderão fazer despedimentos por razões económicas “durante o período em que durar o apoio”. Longe vão os tempos em que os exemplos vinham de cima. 

 

Já a senhora Ministra da Saúde promoveu uma campanha nacional apelando à vacinação contra a gripe de todos os grupos de risco. Resultado: ficou muito admirada por as pessoas terem aderido à campanha e justificou a falta de vacinas disponíveis devido à forte afluência de pessoas aos centros de saúde e às farmácias. Agora e depois de alguma polémica sobre as vacinas para a COVID serem ou não administradas às pessoas com mais de 70 anos, veio dizer que desta vez está tudo preparado e há vacinas para todos. Não sei porquê, mas prevejo tantas nuvens negras no horizonte…

 

Os deputados do PSD apresentaram, na Assembleia da República, um plano especial de apoio à economia de Fátima, já que tinham sido aprovadas recentemente medidas excepcionais e específicas para outras regiões turísticas do país. A proposta apresentava soluções para minimizar a crise extrema que o sector do turismo religioso está a atravessar na cidade. As medidas incluíam, entre outras, a isenção da Taxa Social Única (TSU) por um período alargado; o acesso a linhas de crédito a longo prazo, específicas para o turismo religioso, com períodos de carência de 2 a 3 anos; a manutenção de fundos no Turismo de Portugal específicos para o turismo religioso e o reforço de fundos de apoio às
Instituições de Solidariedade Social (IPSS) do concelho de Ourém. Curiosamente, ou talvez não, esta proposta foi chumbada com os votos de todos os deputados do Partido Socialista (PS), incluído o deputado de Ourém, António Gameiro. Coisas da política…

 

Para não acabar esta crónica de forma tão cinzenta, compartilhocom os caros leitores a minha prenda de Natal, já que também podemos oferecer alguma coisa a nós mesmos. No dia 2 de Dezembro abriu ao público a nova exposição temporária do Santuário ‑ “Rostos de Fátima: fisionomias de uma paisagem espiritual” ‑ no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade. Sendo uma exposição imperdível, não podia ser mais actual. Porque a história de Fátima foi e é feita por personagens reais, nesta época em que devido à pandemia somos obrigados a usar máscara, o Santuário promove, numa feliz iniciativa, uma exposição em que nos revela os rostos dos que construíram Fátima, “sem deixar de olhar pluralmente para os que, durante anos, se insurgiram como críticos e opositores”.

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