Vasculhar nos papéis que temos guardados há já algumas décadas, leva-nos a que, como por acaso, surjam algumas apontamentos marcantes da nossa freguesia.
É com estas memórias que se sente o pulsar de quem foi fazendo a história da nossa freguesia e que convém de quando em vez trazer a público, para que não caiam no esquecimento.
No dia 19 de Março de 1961 foi inaugurada a luz eléctrica na sede da freguesia, em Fátima. Até essa data apenas a então Cova da Iria tinha esse privilégio. Na edição do dia 2 de Abril, o Notícias de Ourém referia que a “Junta de Freguesia quis solenizar o acto inaugural do importante melhoramento, e, para isso convidou diversas entidades da maior representação que, rodeadas de muito povo, nele tomaram parte. Ali compareceram cerca das 12 horas os Srs. Dr. Acácio de Paiva, Presidente do Município; Dr. José Maria Simões de Carvalho, Presidente da União Nacional Concelhia; Vereadores Dr. Carlos de Faria e Almeida, professor Simões Gil, o Director do «Notícias de Ourém», etc., que, depois de visitarem a sede da Junta, excelente edifício há poucos anos ainda inaugurado, se dirigiram à Igreja Matriz, onde assistiram ao final do acto religioso que ali se celebrava e cumprimentaram o venerando Prelado, Sr. D. João Pereira Venâncio com o qual se encaminharam seguidamente, a pé, para o local onde se encontra instalada a cabine, distante algumas centenas de metros. Ali chegados, com acompanhamento de muito povo, o Senhor Bispo de Leiria, acolitado pelo Rev.º Pároco de Fátima, Padre Manuel António Henriques, procedeu à bênção da instalação, depois do que, e a convite do Sr. Presidente da Câmara, cortou a fita que vedava a entrada, acto que a assistência coroou com muitas palmas e vivas. Sua Ex.ª Rev. ma acompanhado da mesma Autoridade entrou na cabine e fez a ligação da corrente, o que deu novamente lugar a manifestações de vivo regozijo, por parte da assistência.”
Como é da praxe, discursaram nesta cerimónia o Presidente da Junta de Freguesia, João do Rosário Figueira e o Dr. Acácio de Paiva, que era então o presidente da Câmara. Como boa inauguração que se preze, seguiu-se um lauto almoço, para as entidades convidadas, nas Dominicanas.
Já no findar do ano seguinte de 1962, no dia 18 de Novembro, surgia uma interessante notícia, que transcrevo na íntegra.
“Carreira de helicóptero
Vai ser criada uma carreira de helicópteros de Lisboa para Fátima.
Segundo consta, a zona de turismo a que pertence Fátima, está em negociações com a Aeronáutica Civil e com os Transportes Aéreos Portugueses, para o estabelecimento de uma carreira de helicópteros do Aeroporto de Lisboa para o Santuário de Fátima. Parece que já no próximo verão funcionariam essas carreiras que trarão a Fátima, considerável número de peregrinos.
Este meio de transporte, facilitaria a vinda de muitas pessoas que não dispõem de tempo para vir de comboio ou de carro, sobretudo dos estrangeiros de passagem por Lisboa.”
Mais um sonho que nunca chegou a concretizar-se. Mas como escreveu António Gedeão, “o sonho comanda a vida [e] sempre que um homem sonha o mundo pula e avança (…)”. Um abraço sentido por nos ter ajudado a sonhar, Quim Clemente.
Uma última notícia a findar esse mesmo ano. No já longínquo ano de 1946, por provisão de 1 de Agosto, o Bispo de Leiria tinha desligado o Santuário da jurisdição da paróquia de Fátima. A primeira vez que o Reitor, Monsenhor Borges, casou paroquianos a viver na Cova da Iria foi no dia 14 de Novembro de 1962. No altar mor da Basílica foi celebrado o enlace de Maria Emília Vieira com Manuel de Oliveira Reis Júnior. A noiva, natural da freguesia da Barreira (Leiria), residia desde 1951 numa casa pertencente ao Santuário. Um pormenor interessante e com muito significado é que ambos trabalhavam no Santuário.
São estas pequenas memórias que ajudaram a construir a nossa identidade e que, por certo, foram vividas por muitos leitores do nosso jornal. Até porque, como diz o velho ditado, “recordar é viver”.