As 3 anteriores crónicas mais não pretendiam do que lançar a discussão sobre o nosso futuro enquanto cidade e freguesia. É claro que Fátima não pode ficar indefinidamente à espera de «iluminados políticos». A campanha política que se avizinha (e em que as promessas avulsas de quem pretende chegar ao poder irão ser mais que muitas) não nos deve criar a ilusão que é desta que surgirá alguém com uma varinha mágica que resolverá todos os nossos problemas. Haverá por certo boas intenções entre os candidatos, mas os meios económicos (ou a falta deles) condicionarão as soluções. Até porque grande parte dos problemas já estão assinalados há muito tempo. Certo é que sem apoio do Governo e das instâncias europeias muito ficará por fazer.
Mas se isto se passa em relação às grandes obras estruturais, não podemos nem devemos ficar de braços cruzados. Há que ter uma visão de futuro e isso passa pela sociedade civil, pelas associações e pelo conjunto de cidadãos que se devem unir, arregaçar as mangas e construir projectos de futuro. Felizmente temos visto alguns exemplos muito válidos ao nível das associações. Mas precisamos de mais. Precisamos da participação activa de todos, independentemente das suas convicções políticas.
Até porque Fátima, nos últimos tempos, perdeu alguns dos seus empreendedores mais marcantes. Uns afastaram-se, outros infelizmente já não estão entre nós. Permitam-me saudar a memória de Albino Frazão e Francisco Vieira e o seu exemplo de coragem, visão de futuro e tenacidade sem limites na defesa da sua/nossa Fátima.
É também tempo de perceber que o futuro não se constrói de costas voltadas para o Santuário, mas num esforço comum, com objectivos claros e bem delineados. Há sonhos que podem e devem ser partilhados, de e por Fátima. Urge também fazermos o balanço destes últimos anos, já que não foi só a pandemia que nos trouxe novos desafios. Convém lembrar, a título de exemplo, que Fátima nestes últimos anos tem vindo a sofrer uma sangria de alunos, professores e funcionários dos colégios. O facto de não se poderem inscrever alunos de outros concelhos também afectará o futuro da nossa cidade. Era importante que alguém se interessasse por fazer um estudo sobre as consequências económicas e sociais desta diminuição significativa diária de população em Fátima.
Por outro lado, o aumento do tráfego automóvel também deve ser encarado não como uma fatalidade mas como um desafio, de procura de soluções que nos próximos anos permitam manter a nossa qualidade de vida. Muito mais haveria a dizer e, por certo, todos nós teríamos algo a acrescentar a esta lista sobre os desafios de futuro para Fátima.
Talvez não por acaso acabei de reler, pela enésima vez, o romance de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha. Escrito em 1605, a obra conta as aventuras de D. Quixote, acompanhado pelo seu fiel escudeiro, Sancho Pança. Um representa o sonho, o idealismo, o aventureirismo e o outro a parte prática da vida e o apego ao materialismo.
Este romance ensina-nos que independentemente da nossa condição física, social ou da nossa idade, todos nós somos dignos o suficiente para nos levantarmos e criarmos, em cada dia, um mundo melhor. No fundo, Dom Quixote ensina-nos que com vontade, dignidade, persistência e pessoas certas ao nosso lado – como o seu amigo Sancho Pança – podemos mudar o mundo ou, no nosso caso, Fátima.